sábado, abril 01, 2006

Zequinha de Abreu

De formação singela, Zequinha de Abreu tornou-se figura decisiva da música popular brejeira e de classe média no Brasil do começo do século XX. Com Carmen Miranda, ficou internacionalmente conhecido.


José Gomes de Abreu, conhecido como Zequinha de Abreu, nasceu em Santa Rita do Passa Quatro SP, em 19 de setembro de 1880. Estudou num seminário de São Paulo, de onde fugiu de volta para a cidade natal. Compôs então uma de suas primeiras valsas, Flor da estrada. Quando se tornou funcionário público, já compunha choros, tangos, marchinhas e foxtrotes.

Seu título mais famoso, o choro Tico-tico no fubá, é de 1917. Divulgado mais tarde por Carmem Miranda nos Estados Unidos, tornou-se uma das músicas populares brasileiras mais gravadas em todo o mundo. Em 1918, Zequinha de Abreu compôs sua valsa mais conhecida, Branca.

No ano seguinte, com a morte do pai, mudou-se para São Paulo e passou a tocar piano em bailes, cabarés e casas de famílias ricas, onde também muitas vezes vendia suas partituras. Em 1933, fundou a banda Zequinha de Abreu, com 25 integrantes. O compositor morreu em São Paulo, em 22 de janeiro de 1935. Sua vida inspirou o filme Tico Tico no Fubá (1952), dirigido por Adolfo Celi e Fernando de Barros.

Algumas composições





Fontes: Encyclopaedia Britannica - BARSA; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora - 1998, SP.

Jararaca e Ratinho


Jararaca e Ratinho - Dupla sertaneja formada em 1927 por José Luís Rodrigues Calazans, o Jararaca (Maceió AL 1896-Rio de Janeiro RJ 1977) e Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho (Itabaiana PB 1896-Duque de Caxias RJ 1972). José Luís encontrou Severino em 1918, nas rodas artísticas de Recife PE.


Começaram a tocar juntos, organizando um conjunto, os Turunas Pernambucanos, onde apareciam ao lado de Pirara e Romualdo Miranda (violões), Robson (cavaquinho) e Artur Sousa (ganzá). Todos os integrantes adotaram apelidos de bichos, permanecendo os de Jararaca e Ratinho mesmo depois da dissolução do conjunto.

Em 1921 os Turunas exibiram-se por 15 dias no Cine-Teatro Moderno, com o conjunto Oito Batutas, que visitava Recife. Foi o estímulo decisivo para o grupo, convidado então para os festejos do centenário da Independência, no Rio de Janeiro, em 1922, fazendo grande sucesso com suas emboladas, cocos, baiões, e com seus trajes típicos: alpercatas e chapéu de couro. O vespertino A Noite deu-lhe ampla cobertura, chefiada pessoalmente por seu proprietário, Irineu Marinho. O conjunto foi convidado a gravar dois discos na Odeon, obtendo grande êxito com A espingarda (Pa-pa-pá) - arranjo de Jararaca sobre tema folclórico, e Jararaca gravou também um disco solo, com Vamos embora Maria, samba sertanejo, e Passarinho verde, canção nortista (ambas de sua autoria).

O conjunto excursionou então pelo Sul e, contratado pela companhia Abigail Maia, apresentou-se em Buenos Aires, Argentina, desfazendo-se em seguida. Jararaca (violão e canto) e Ratinho (saxofone) ainda se apresentaram por algum tempo no Café Rio Branco, em Montevidéu, Uruguai, mas a dupla só se formou com a inauguração do Teatro Santa Helena, na Praça da Sé, de São Paulo SP, em 1927, fazendo grande sucesso com emboladas entremeadas de quadros humorísticos. Em 1928 Francisco Alves gravou, de Jararaca, Meu sabiá, na Odeon, e no ano seguinte Meu Brasil, na Parlophon; e foi na Odeon que a dupla gravou seu primeiro disco, em 1929, apresentando, de sua autoria, Caipirada e Lista do baile. Começou então a desenvolver seus quadros, explorando determinadas situações, como as relações dos "turcos" com os caipiras, das quais Aniversário do Abdula e A loja do turco são um exemplo.

A dupla excursionou pelo interior com Cornélio Pires. Em 1930 Ratinho gravou ao saxofone alguns choros e valsas de sua autoria, entre os quais Saxofone por que choras?, Guriatã de coqueiro, Cenira, Eu e eles. Dois anos depois a dupla cantava músicas nordestinas e regionais, e contava piadas na Casa de Caboclo, apresentando-se também na Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro. Jararaca passou então a compor com o maestro Vicente Paiva, fazendo sucesso no Carnaval de 1937 com a marcha Mamãe eu quero, gravada por Jararaca na Odeon. Outra composição da dupla, o samba Pode ser que sim foi gravado pelo conjunto Os Trigêmios Vocalistas em 1943, na Columbia. Com o advento do Estado Novo, veio a fase áurea da Rádio Nacional e o apogeu da dupla, que teve programa próprio, além de participar do programa Eucalol, em que Ratinho tocava choros e valsas ao saxofone.

Em 1942 a dupla gravou pela Odeon um disco representativo dessa fase, apresentando, de sua autoria, o desafio Desafiando e a embolada Oi, Chico, seguindo-se, em 1945, disco com a marcha Bonito e a batucada Meu pirão primeiro. Dois anos depois, Ratinho gravou, ainda na Odeon, o choro Pinicadinho, grande sucesso da dupla. Na Rádio Nacional, onde atuou de 1936 e 1945, e excursionando pelo país, a dupla integrou a famosa Lira do Xopotó, banda que sugeria um conjunto do interior do Brasil, em que Jararaca fazia o papel de Mestre Filó e Ratinho o de Jararaca. Quando a programação radiofônica começou a ser feita em disco, a dupla passou para a televisão, estreando com o programa A-E-I-O-Urca, na TV Tupi.

Em 1922 os Turunas Pernambucanos desembarcavam no Rio de Janeiro. Entre eles, Jararaca (o terceiro sentado à direita) e Ratinho (de pé, à esquerda, com o clarinete).


Em 1960 a dupla apresentou em São Paulo a burleta Por que me ufano de Bananal, desempenhando nessa década o mesmo papel de compadres caipiras representado durante toda a carreira, nos programas Balança mas não Cai, UAU e Aquele Abraço, na TV Globo. Após a morte de Ratinho, Jararaca continuou se apresentando em papéis cômicos na televisão, em diversos programas.


Fontes: História da MPB - Editora Globo; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Ed. e Publifolha.

Turunas da Mauricéia


Conjunto vocal e instrumental organizado em 1926 no Recife PE e composto por Luperce Miranda, Augusto Calheiros, Manuel de Lima (Manuel Bezerra de Lima, ?-Recife 1943), Piriquito (João Frazão ?-?) e Romualdo Miranda (Recife 1887-id. 1930).


Viajando para o Rio de Janeiro, sem Luperce Miranda, em 1927, tiveram uma estreia memorável no Teatro Lírico, em festa patrocinada pelo Correio da Manhã. Trajando roupas sertanejas, com chapéus de abas largas, Augusto Calheiros - o Patativa do Nordeste -, Manuel de Lima (violonista cego), Piriquito, também violonista, além de Riachão (bandolim) e Romualdo Miranda (violão), irmãos de Luperce, cantaram cocos, emboladas etc., ritmos até então pouco divulgados no Rio de Janeiro, apresentando-se na Rádio Clube com grande êxito.

Gravaram Helena (Luperce Miranda) e a embolada Pinião (Augusto Calheiros e Luperce Miranda), esta logo cantada em toda a cidade, tornando-se o grande sucesso do Carnaval de 1928.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Oito Batutas


Oito Batutas - Conjunto musical organizado em 1919, quando Isaac Frankel, gerente do cinema carioca Palais, pediu a Pixinguinha que selecionasse alguns integrantes do Grupo do Caxangá para atuarem na sala de espera do cinema.


O grupo estreou em 7 de abril de 1919 e, em sua primeira formação, incluía Pixinguinha (flauta), China (canto, violão e piano), Donga (violão), Raul Palmieri (violão), Nelson Alves (cavaquinho), José Alves (bandolim e ganzá), Jacó Palmieri (pandeiro) e Luís de Oliveira (bandola e reco-reco), tocando repertório de maxixes, canções sertanejas, batuques, cateretês e choros.

Fez grande sucesso entre a elite carioca, trazendo pela primeira vez, para o centro da cidade, um conjunto popular que executava música brasileira, utilizando instrumentos até então só conhecidos nos morros e nos subúrbios. Até o aparecimento dos Oito Batutas, as orquestras de cinema apresentavam a chamada música fina: valsas vienenses e tangos de Ernesto Nazareth, que se exibia então no Cine Odeon, em frente ao Palais. Luís de Oliveira, falecido logo após a estréia, foi substituído por João Tomás. Nessa época, participaram da opereta Flor de tapuia, dirigida por Eduardo Vieira. A peça ficou meses em cartaz, até ser suspensa repentinamente, quando o maestro português fugiu com a partitura que escrevera para ela.

Alcançando grande popularidade, o conjunto apresentou-se em festas elegantes, exibindo-se, em setembro de 1920, para os reis da Bélgica, no piquenique da Tijuca oferecido pelo governo brasileiro aos visitantes. Além de excursões por São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, em 1921 o conjunto apresentou-se no elegante Cabaré Assírio, do Rio de Janeiro, acompanhando Duque e Gaby. Por influência de Duque, o milionário Arnaldo Guinle financiou uma viagem do grupo a Paris, França, possibilitando, assim, a primeira exibição de um conjunto de música popular brasileira no exterior.

Em janeiro de 1922, no navio Massilia, viajaram sete instrumentistas, pois os irmãos Palmieri e João Tomás desistiram, sendo substituídos por Feniano (pandeiro) e José Monteiro (cantor). Rebatizados por Duque, Les Batutas estrearam em Paris no Dancing Sheherazade, incluindo em seu repertório o samba Sarambá (de J. Tomás, com colaboração de Duque na versão para o francês). O sucesso foi imediato, e durante seis meses apresentaram-se com êxito no dancing.

Em fins de julho de 1922 voltaram ao Brasil para participar dos festejos da Exposição do Centenário da Independência. As influências do jazz, sofridas no exterior, tornaram-se logo evidentes, pela inclusão de saxofones, clarinetas e trompetes, pela utilização de arranjos instrumentais no estilo das jazz-bands e pelas alterações no repertório, que passou a incluir fox-trots, shimmys, ragtimes e outros ritmos estrangeiros da moda. Voltando a atuar no Cabaré Assírio, o grupo participou da revista Vila Paris, da companhia francesa Bataclan, que se apresentou pela primeira vez no Rio de Janeiro em 1922.

Ainda nesse ano, excursionaram pela Argentina com a seguinte formação: Pixinguinha (flauta e saxofone), João Tomás (bateria), China (violão e banjo), Donga (violão e banjo de seis cordas), J. Ribas (piano), Nelson Alves (cavaquinho) e José Alves (bandolim, banjo e ganzá). Além de apresentação no Teatro Empire, de Buenos Aires, o conjunto gravou dez discos na Victor Argentina: Meu passarinho (China) e Até eu! (Marcelo Tupinambá), sambas; Urubu (Pixinguinha) e Caruru (João Tomás e Donga), choros; Graúna (João Pernambuco), maxixe, e Me deixa serpentina! (Nelson Alves), polca; Pra quem é?... (J. Bicudo), maxixe, e Lá-ré (Pixinguinha), polca; Tricolor (Romeu Silva), maxixe, e Se papai souber (Romeu Silva), samba-maxixe; Ba-ta-clan (A. Treilesberk) e Lá vem ele (J. G. Oliveira Barreto), maxixes; Não presta pra nada (J. Bicudo), maxixe, e Nair (Aristides J. de Oliveira), polca; Já te digo (China e Pixinguinha) e Faladô (João Tomás), sambas; Três estrelinhas (Anacleto de Medeiros), choro, e Vira a casaca! (Joubert de Carvalho), marcha; Vitorioso (Gaudio Vioti), marcha, e Até a volta (Marcelo Tupinambá), tanguinho.

Os Oito Batutas em sua formação original: Jacob Palmieri, Donga, José Alves Lima, Nélson Alves, Raúl Palmieri, Luiz Pinto da Silva, China e Pixinguinha.


Voltaram em 1923 e, nesse mesmo ano, sua constituição começou a variar, chegando a contar com doze elementos. Havia começado a época das grandes orquestras no estilo das jazz-bands norte-americanas, e o grupo passou a se apresentar mais raramente. Depois, foram organizados conjuntos e orquestras incluindo elementos dos Batutas. Na Odeon, por exemplo, o nome do conjunto foi utilizado em gravações realizadas por volta de 1928, muitos anos depois da dissolução do grupo primitivo.

A epopeia dos Batutas

No Carnaval de 1921 o grupo foi atração no desfile do Tenentes do Diabo, cantando em cima de um carro alegórico. Tudo isso chamou a atenção do bailarino brasileiro Duque - Antônio Lopes de Amorim Diniz - que dançando o maxixe com a francesa Gaby era a sensação de Paris e que convenceu Arnaldo Guinle a financiar a viagem dos Batutas para uma temporada na capital francesa.

Em 29 de janeiro de 1922, com sete elementos e rebatizado como Les Batutas, um modificado grupo embarcou rumo à Europa, para se apresentar no Dancing Scheherazade, em Paris. As mudanças aconteceram porque os irmãos Palmieri e Luiz Pinto desistiram da viagem. Em seus lugares entraram Sizenando Santos (pandeirista), José Monteiro (cantor e ritmista) e J. Thomaz (ritmista).

Na última hora Thomaz não viajou e assim o grupo virou Les Batutas ou L' Orquestre des Batutas. Mais uma vez a imprensa se divide, torcendo o nariz por ver o Brasil representado por negros e "música de gentinha", ou elogiando a oportunidade da Europa conhecer o que se fazia no país em termos de música popular, por intermédio de um grupo extremamente talentoso.

Foram seis meses de sucesso em Paris, onde uma parceria entre Duque e Pixinguinha garantia no mais puro francês: "Nous sommes batutas,/ Batutas, batutas / Venus du Brésil / Ici tout droit / Nous sommes batutas,/ Nous faisons tout le monde / Danser le samba / Le samba se danse / Touj ours en cadence / Petit pas par ci / Petit pas par là / Il faut de l'essence / Beaucoup d'elegance / Le corps se balance / Dansant le samba".

Em 24 de setembro de 1920, os Oito Batutas, ainda antes de Paris: Pixinguinha, Raul Palmieri, José Alves, China, Jacó Palmieri, Luiz de Oliveira, Donga, Nélson Alves com o empresário, José Segre


De retorno ao Rio, os Batutas voltaram a ser oito (embora em algumas fotos apareçam nove elementos, sendo o nono o empresário) e desfrutaram da projeção internacional com apresentações no Jockey Club e no Teatro Lírico, na companhia de revista francesa Ba-Ta-Clan, no espetáculo Vila Paris. Eram o grande destaque musical do pais quando embarcaram, em novembro de 1922, para temporada em Buenos Aires.

Novamente modificado - ficaram Pixinguinha, China, Donga, Nélson Alves e José Alves, e entraram J. Thomaz (bateria), Josué de Barros (violão) e J. Ribas (piano) -, o êxito da Europa se repetiu. 0 grupo gravou dez discos na Victor argentina, antes de se desentender, depois do que quatro de seus integrantes retornaram ao Brasil.

Pixinguinha, China, Josué e Ribas tentaram sobreviver com shows no interior do país, mas a penúria foi tal que Josué de Barros teve de bancar o faquir em Río Cuarto, enterrado vivo. Foi salvo pela piedade da mulher do chefe da polícia, que interrompeu a exibição. Repatriados pela embaixada, voltaram ao Brasil para seguir carreiras independentes, já que Os Oito Batutas qual trágico tango - "morreram" na Argentina.

Os Oito Batutas durante a excursão a Argentina, em 1923. Essa viagem precipitaria o fim do grupo que, em solo portenho, teve que se apresentar em espetáculos mambembes para conseguir dinheiro para voltar para o Brasil: enganados pelo empresário que fugira com o lucro das bilheterias.




Fonte: História do Samba - Editora Globo.

Mário Reis

Mário Reis (Mário da Silveira Reis), cantor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 31/12/1907 e faleceu em 4/10/1981. Filho de um comerciante sócio de uma casa de ferragens, de boa situação financeira, passou a infância no bairro carioca da Tijuca, cursando o primário e o secundário no Instituto Lafayette, e aos 15 anos jogava como meia-direita na equipe juvenil do América Futebol Clube.


Começou a estudar violão com Carlos Lentine, e em 1926, ano em que entrou para a Faculdade de Direito da rua do Catete, conheceu Sinhô na loja A Guitarra de Prata. Passou a tomar aulas de violão com o compositor, e este, impressionado com a interpretação que o aluno dava a seus sambas, convidou-o a tentar uma gravação.

Em agosto de 1928 a Odeon lançou seu primeiro disco, com Que vale a nota sem o carinho da mulher? e Carinhos de vovô (ambas de Sinhô); acompanhado ao violão pelo autor e por Donga, obteve grande êxito: a interpretação brejeira e ritmada do novo intérprete contrastava com a dos demais cantores da época, geralmente influenciados pelo bel-canto operístico. Contratado pela Odeon, gravou outras músicas de Sinhô: Sabiá e Deus nos livre dos castigos das mulheres, e, em seguida, Jura e Gosto que me enrosco, disco este que bateu recordes de vendagem na época.

Em 1929 lançou o samba Vou à Penha, a primeira composição gravada de Ary Barroso, seu colega de faculdade, e ainda desconhecido como autor. Em 1 ° de agosto do mesmo ano estreou no rádio, cantando o samba Vamos deixar de intimidade (Ary Barroso), na Rádio Sociedade. Mais tarde atuou na Rádio Clube e no famoso Programa Casé.

Em 1930 formou, com o cantor Francisco Alves, uma dupla responsável por 12 discos, dos quais o primeiro foi Deixa essa mulher chorar (Brancura) e Quá, quá, quá (Lauro dos Santos). O êxito alcançado provocou o surgimento de várias duplas de cantores no cenário da música popular da época. Formado em direito em 1930, não chegou a advogar, trabalhando como fiscal de jogo a partir de 1933.

Em 1931, visitando São Paulo SP, gravou na Columbia um 78 rpm com o pseudônimo de C. Mendonça, por ser contratado exclusivo da Odeon. O disco, número de série 22.031, é hoje um exemplar raro. Nesse ano, ao lado de Francisco Alves, Carmen Miranda, Luperce Miranda, Tute e os dançarinos Nestor Figueiredo e Célia Zenatti, excursionou a Buenos Aires, Argentina. Ainda em 1932 deixou a Odeon, gravando na Columbia dois discos, com músicas de Noel Rosa: Filosofia (com André Filho), Vejo amanhecer, Na esquina da vida (com Francisco Matoso) e Meu barracão.

Logo transferiu-se para a Victor, onde, para o Carnaval de 1933, gravou dois dos maiores sucessos de sua carreira, a marcha Linda morena e o samba A tua vida é um segredo (ambos de Lamartine Babo), que o acompanhou na gravação, cantando. Do mesmo autor lançou ainda, entre outras, a marcha junina Chegou a hora da fogueira, gravada em dupla com Carmen Miranda, em 1933. Atuando na Rádio Mayrink Veiga a partir desse ano, lançou Agora é cinza, o grande sucesso da dupla de compositores Bide e Marçal e Alô, alô (André Filho), em dueto com Carmen Miranda, ambos para o carnaval de 1934.

Ainda em 1934 gravou com Carmen Miranda, para as festas juninas, Isto é lá com Santo Antônio (Lamartine Babo). Em 1935 e 1936 interpretou sucessos carnavalescos nos filmes musicais Alô, alô Brasil e Estudantes, ambos de Wallace Downey, e Alô, alô, Carnaval, de Ademar Gonzaga, todos produzidos pela Waldow-Cinédia.

Retornando à Odeon em fins de 1935, de seus nove discos lançados, obteve sucesso apenas com a marcha Cadê Mimi? (João de Barro e Alberto Ribeiro). Seu prestígio começou a declinar em parte por sua aversão a entrevistas, fotografias e aparições em público. Aceitou o cargo de oficial de gabinete da prefeitura do então Distrito Federal e abandonou a vida artística, aparecendo esporadicamente no cenário musical.

Em 1939, no show beneficente Joujoux et balangandans, apresentado no Teatro Municipal, interpretou o samba Voltei a cantar e a marcha Joujoux et balangandans (ambos de Lamartine Babo). Depois de gravar essas músicas, e mais quatro discos na Columbia, afastou-se novamente da vida artística.

Só retornou em 1951, pela Continental, com um álbum de três discos de 78 rpm, nos quais relançou antigos sucessos de Sinhô, além de outro disco para o Carnaval de 1952, com a marcha Flor tropical (Ary Barroso) e o samba Saudade do samba (Paulo Soledade e Fernando Lobo). Deixou gravados 82 discos em 78 rpm, com 161 músicas, quase que exclusivamente sambas e marchas.

Residindo desde 1957 no Copacabana Palace Hotel, aceitou convite de Aloysio de Oliveira, em 1960, para gravar na Odeon o LP Mário Reis canta suas criações em Hi-Fi. Em 1967 a gravadora Elenco lançou o LP O melhor do samba, no qual aparece como intérprete, ao lado de Billy Blanco, Araci de Almeida e Ciro Monteiro.

Em 1971 a Odeon lançou novo LP seu, com antigos sucessos, e ainda A banda (Chico Buarque). Como a censura, nesse LP proibisse o samba Bolsa de amores (Chico Buarque), exigiu que a faixa destinada à música saísse em branco. A gravação só foi lançada em 1993, no CD Mário Reis canta suas criações em Hi-Fi.

Algumas interpretações































Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.

Marília Batista


Marília Batista (Marília Monteiro de Barros Batista), cantora e compositora, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 13/4/1918 e faleceu em 9/7/1990. Neta do poeta Luís Monteiro de Barros, começou a tocar violão e a compor desde criança e mais tarde estudou no I.N.M., formando-se em teoria, solfejo e harmonia, e abandonando o curso de piano no quarto ano.


A 29 de agosto de 1930, com 12 anos, levada pelo jornalista Lauro Sarno Nunes (pai de Max Nunes), deu seu primeiro recital de violão no Cassino Beira-Mar, cantando entre canções sertanejas, sambas e cateretês, suas primeiras composições.

Josué de Barros (lançador de Carmen Miranda), que a ouviu, ofereceu-se para lhe dar aulas de violão, de graça. Durante seis meses estudou com ele, mas depois, como pretendia ser concertista, tomou aulas de violão clássico com José Rebelo.

Em 1931, convidada para cantar no espetáculo Uma Hora de Arte, no Grêmio Esportivo Onze de Junho, conheceu Noel Rosa e, numa festa na casa da cantora Elisinha Coelho, onde também cantou e foi muito aplaudida, conheceu Hekel Tavares, Luiz Peixoto, Almirante e Bando de Tangarás.

No ano seguinte, acompanhada de João Martins (bandolim) e Rogério Guimarães (violão), gravou pela Victor seu primeiro disco, cantando duas composições suas feitas em parceria com seu irmão Henrique Batista - o samba Pedi, implorei e a marcha Me larga.

Em 1933, a convite de Almirante, participou, ao lado de Sílvio Caldas e Ary Barroso, do show Broadway Cocktail, levado no Cine-Teatro Broadway, e logo depois foi contratada por Ademar Casé, que assistira ao espetáculo, para seu programa na Rádio Philips.

No programa Casé, apresentou-se inicialmente (1934) ao lado de Noel Rosa, com quem improvisava versos cantados com o estribilho "De babado sim / De babado não", e depois sozinha (1935), lançando pelo rádio o samba de Noel Pela décima vez.

No ano seguinte gravou, com Noel, na Odeon, De babado (Noel Rosa e João Mina) e Cem mil réis (Noel Rosa e Vadico). Ainda com Noel e acompanhada pelo conjunto de Benedito Lacerda, lançou mais dois discos nesse ano: pela Victor, os dois cantaram os sambas Quem ri melhor (Noel Rosa) e Quantos beijos (Noel Rosa e Vadico); e, em disco Odeon, registraram Provei (Noel Rosa e Vadico) e Você vai se quiser (Noel Rosa).

Aos poucos, foi-se tornando conhecida como compositora e uma das principais intérpretes de Noel Rosa. Já por essa época, seu trabalho lhe valeu o título de Princesinha do Samba e, em 1940, gravou na Victor o samba-canção de Noel Rosa Silêncio de um minuto.

Em 1945 casou-se e interrompeu por alguns anos suas atividades musicais, retornando à vida artística cinco anos depois, quando lançou pela Musidisc o LP Samba e outras coisas, que reuniu as composições que fez com o irmão Henrique Batista - Nunca mais, Você não é feliz porque não quer, Imitação, Vai, eu te dou liberdade, Praia da Gávea, Vila dos meus amores e mais duas composições de Noel Rosa.

Pela mesma etiqueta, gravou, em 1954, LP só com músicas de Noel Rosa, nele incluindo o samba Tipo zero e, nove anos mais tarde, voltou a gravar só composições do compositor de Vila Isabel, num álbum com dois LPs, editado pelo selo Nilser, de Nilo Sérgio, intitulado História musical de Noel Rosa.

Em 1967 voltou a gravar sambas desse compositor. Em toda a sua carreira, gravou cerca de 30 discos, além dos LPs citados. Dentre seus méritos, o maior foi ter contribuído para a divulgação de Noel Rosa.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Luperce Miranda

Luperce Bezerra Pessoa de Miranda, instrumentista e compositor, nasceu em Recife PE em 28/7/1904 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 5/4/1977. Nasceu no bairro dos Afogados. O pai, João Pessoa de Miranda, tocava bandolim, violão e piano, tendo organizado com os 11 filhos uma orquestra caseira.


Tocou bandolim desde os oito anos; aos 15, compôs seu primeiro frevo, e no ano seguinte organizou a Jazz Leão do Norte, orquestra de nove elementos, em que tocava piano, atuando na Confeitaria A Glória, de Recife.

Em 1926 fazia parte do conjunto Turunas da Mauricéia, com o cantor Augusto Calheiros (Patativa do Norte), o violonista cego Manuel de Lima, o violonista e diretor João Frazão, e seus irmãos João, cavaquista, e Romualdo, violonista.

O conjunto seguiu sem ele para o Rio de Janeiro no início de 1927 e, no final do ano, gravou 20 músicas na Odeon, sendo três de Luperce com Augusto Calheiros: a canção Belezas do sertão, o samba O pequeno fiururu e a embolada Pinião, sucesso do Carnaval de 1928.

Ainda em 1927, animado com o sucesso dos Turunas, organizou em Recife novo conjunto - Voz do Sertão, com Meira, violão; José Ferreira, cavaquinho; Robson Florence e ele próprio, bandolins, o cantor de emboladas Minona Carneiro e, depois, Romualdo e veio para o Rio de Janeiro. Aí conheceu o violonista Tute (Artur Nascimento), de quem o conjunto gravou Pra frente é que se anda e Alma e coração, valsa que foi grande sucesso, regravada na década de 1950 pela Sinter. Com o Voz do Sertão lançou, pela Parlophon, Moto contínuo, Lá vai madeira, Festa do Pina, O caboclo alegre e Barulhento (todas de sua autoria).

Em 1929 constituiu o Regional Luperce Miranda, atuando na Rádio Clube do Brasil; gravou com o Bando de Tangarás, ao lado de Almirante, e compôs com Manuel Lino Vaca maiada, gravada por Almirante, na Parlophon. Ao lado de Tute e do Regional, acompanhou os grandes cantores da época, como Carmen Miranda (cuja introdução de No tabuleiro da baiana é de sua autoria), Francisco Alves, Mário Reis em Se você jurar, e Noel Rosa na primeira gravação de Com que roupa?.

No ano seguinte, formou o conjunto Alma do Norte e em 1931 apresentou-se na Radio El Mundo, de Buenos Aires, Argentina, com Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis, Tute, Célia Zenatti e Nestor Figueiredo. Na Victor lançou Alma em delírio, Vamos dançar, Segura o dedo (as três de sua autoria) e Carinhos (Pixinguinha).

Em 1936 foi para a Rádio Mayrink Veiga. Em 1945 transferiu-se para a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, e no ano seguinte voltou para o Nordeste, instalando-se em Recife até 1955, quando reintegrou o elenco da Nacional (aposentando-se em 1973). Em 1956 gravou na Sinter o choro Picadinho à baiana, de sua autoria. Na década de 1950, viajou ainda para a então República Federal da Alemanha. Gravou, pela Odeon, Gozada risonha, Quem disse, Fui ao mar buscar laranja, Me deixa em paz, Ao luar, Agüenta a mão e Noite da minha terra.

Fundador da Academia de Música Luperce Miranda, especializada em instrumentos de corda, foi o primeiro a receber o título de Bacharel da Música Popular Brasileira pelo MIS, do Rio de Janeiro, em 1970. Nessa oportunidade foi lançado um LP em que interpreta choros e valsas de Pixinguinha, Anacleto de Medeiros, Zequinha de Abreu, Orestes Barbosa e Antenógenes Silva. No ano seguinte, lançou o LP Luperce Miranda, pela Som, com Caprichos do destino (Pedro Caetano e Claudionor Cruz); Cantiga por Luciana (Paulinho Tapajós e Edmundo Souto); Prelúdio em ré maior (de sua autoria), bem como Risonha, Norival aos 60, e outras.


Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha - 1998, SP; Dicionário Cravo Albin.

Luiz Peixoto

Luiz Peixoto

Considerado o maior revistógrafo brasileiro de todos os tempos, Luiz Peixoto (1889-1973) fez brilhar nos palcos do teatro de revista não apenas os seus sambas. Letrista inspirado, criador de sucessos, era disputado por consagrados parceiros.


Em 1923, depois de dois anos em Paris, Luiz Peixoto lança no Rio de Janeiro um espetáculo com muito êxito, a revista Meia Noite e Trinta. O público lotava o Teatro São José, curioso por ver o que os críticos classificavam como a revista mais original que alguém escrevera até então no Brasil.

Luiz Carlos Peixoto de Castro, com 34 anos, estava destinado, ao longo de sua proveitosa vida, a interferir na cultura brasileira, tanto no teatro como na poesia .ou na música popular. Até morrer, com 84 anos, foi um respeitado criador.

Caricaturista na juventude, companheiro de Raul Pederneiras e Kalixto, encontrou no teatro de revistas o maior campo para seu talento. Ali, foi tudo. Autor, cenógrafo, compositor, diretor, diretor artístico, figurinista, mas sobretudo um homem voltado para as coisas brasileiras, principalmente a música.

Quando chegou da Europa, veio disposto a abrir espaço para substituir o uso musical de ritmos ultrapassados, pela utilização intensa de ritmos da atualidade, especialmente os das composições populares brasileiras, no dizer da pesquisadora Neyde Veneziano. Transformou-se, assim, no maior revistógrafo brasileiro. Poeta inspirado, tornou-se letrista de um sem-número de músicas e parceiro de sambas memoráveis, lançados em revistas de sua autoria ou, mesmo de outros autores. É dele, Ai Ioiô (Linda flor), feita com Henrique Vogeler e Marques Porto, que consagrou Araci Cortes, na revista Miss Brasil, em 1928.

Amigo de Carmen Miranda, desde a incursão da Pequena Notável no teatro de revista, fez para ela dois sambas que marcaram a carreira da estrela: Na batucada da vida, com Ary Barroso, e Voltei pro morro, com Vicente Paiva. Elizeth Cardoso consagrou-se com É luxo só, feita em sua homenagem, pela dupla Luiz Peixoto/Ary Barroso. Sílvio Caldas gravou, também dos dois, além do impecável samba Maria, o belíssimo Por causa dessa cabocla. A força do samba Paulista de Macaé, de parceria com Marques Porto, foi tanta que, lançado na revista Prestes A Chegar, em 1926, tornou-se ele próprio uma revista em 1927. Inovando em sua estreia, após retorno da Europa, sempre moderno, Luiz Peixoto foi acima de tudo um compositor com a alma no palco.

Ilustr.: Três amigos, três caricaturistas, três artistas: Raul Pederneiras, Luiz Peixoto e Kalixto.

Algumas músicas



















Fonte: História do Samba - Ed. Globo.