sábado, abril 07, 2007

Joyce


Joyce (Joyce Silveira Moreno) - 31/1/1948 Rio de Janeiro, RJ. Nascida Joyce Silveira Palhano de Jesus, foi criada na Zona Sul do Rio, começou a tocar violão aos 14 anos de idade, observando seu irmão, o guitarrista Newton, amigo de músicos da bossa nova como Roberto Menescal e Eumir Deodato. Mais tarde, estudou com Jodacil Damaceno (violão clássico e técnica) e Wilma Graça (teoria e solfejo).


Em 1963, participou pela primeira vez de uma gravação em estúdio, no disco Sambacana, de Pacífico Mascarenhas, convidada por Roberto Menescal. A partir daí, gravou vários jingles e começou a compor.

Em 1967, classificou sua canção Me disseram no II Festival Internacional da Canção (RJ). Em 1968 lançou seu primeiro LP, Joyce, com texto de apresentação assinado por Vinícius de Moraes. Em 1969, gravou seu segundo disco, o LP Encontro marcado.

Entre 1970 e 1971, fez parte, juntamente com Nélson Ângelo, Novelli, Toninho Horta e Naná Vasconcelos, do grupo vocal e instrumental A Tribo, chegando a gravar algumas faixas no disco Posições, lançado pela Odeon. Em 1973, gravou com Nélson Ângelo, o LP Nélson Ângelo e Joyce.

Entre os anos de 1971 e 1975, afastou-se das atividades musicais, dedicando-se exclusivamente às filhas Clara e Ana, nascidas em 1971 e 1972, respectivamente. Retomou a carreira em 1975, substituindo o violonista Toquinho, ao lado de Vinicius de Moraes em turnê pela América Latina.

Foi convidada, em seguida, para participar dos shows do poeta pela Europa, já com Toquinho de volta ao grupo. As apresentações geraram, na Itália, a gravação do LP Passarinho urbano, produzido por Sérgio Bardotti para a etiqueta Fonit-Cetra em 1976. Nesse disco, a cantora interpretou músicas de compositores brasileiros que naquele momento estavam tendo sua obra censurada pela ditadura militar, como Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Maurício Tapajós e o próprio Vinícius de Moraes. O disco teve lançamento discreto no mercado brasileiro no ano seguinte.

Em 1977, apresentou-se em temporada de seis meses em Nova York, gravando o Natureza, em parceria com Maurício Maestro, para o mercado exterior, mas que não chegou a ser comercializado.

A partir de 1978 começou a se destacar como compositora, entrando para o repertório de cantores como Milton Nascimento, Elis Regina, Maria Bethânia, Boca Livre, Nana Caymmi, Quarteto em Cy, Joanna, Fafá de Belém e Ney Matogrosso.

Em 1980, participou do Festival de Música Popular Brasileira da TV Globo, classificando Clareana. Nesse mesmo ano, gravou o disco Feminina, com destaque para a canção título, também gravada com sucesso pelo Quarteto em Cy, Mistérios (Joyce - Maurício Maestro), Essa mulher (Joyce - Ana Terra), Da cor brasileira (Ana Terra - Joyce) e Clareana, sucesso de vendagem e responsável pela primeira grande exposição da cantora na mídia.

Ainda na década de 1980, lançou os LPs Água e luz (1981), que trazia o hit Monsieur Binot (Joyce), Tardes cariocas (1984), Saudade do futuro (1985), que trazia Minha gata Rita Lee (Joyce), Wilson Batista: o samba foi sua glória (1986), Tom Jobim: anos 60 (1987), com Gilson Peranzzetta, Negro demais no coração (1988), com destaue para sua regravação de Samba da benção (Baden Powell - Vinícius de Moraes), e Joyce ao vivo" (1989), trazendo, entre outras, Mulheres do Brasil (Joyce). Lançou, em 1990, o LP Music inside" e, no ano seguinte, o LP Language of love.

Em 1993, realizou em Londres um show para um público de 2.000 pessoas, passando a fazer grande sucesso entre o público de drum'n'bass e acid-jazz europeu. Em 1994 a EMI-Odeon lançou o CD Revendo amigos, songbook de seus sucessos em duetos com outros cantores.

Ainda na década de 1990, gravou os discos Delírios de Orfeu (1994), Live at Mojo Club (1995), Sem você (1995), em parceria com Toninho Horta, e Ilha Brasil (1996). Em 1997, publicou o livro Fotografei você na minha rolleyflex, uma coletânea de crônicas e histórias da música popular brasileira. Lançou os discos Astronauta (1998), um tributo a Elis Regina, e Hard bossa (1999).

Divulgando a música brasileira em seguidas turnês internacionais, ministrou workshops, em 2000, no Rytmisk Konservatorium de Copenhagen (Dinamarca) e em Soweto (África do Sul). Ainda nesse ano, seu CD Astronauta foi indicado para o Grammy Latino, na categoria Melhor Disco de MPB. Também em 2000, gravou o disco Tudo bonito, que contou com a participação de João Donato.

Em 2001 teve seu nome alterado para Joyce Silveira Moreno em função do registro civil de seu casamento com o baterista Tutty Moreno. Nesse mesmo ano, lançou o CD Gafieira moderna. Em 2003 sairam Just A Little Bit Crazy e Bossa Duets. Em 2004 lançou Banda Maluca.

Tem centralizado a divulgação de seus trabalhos principalmente no mercado europeu, onde é considerada uma das artistas brasileiras de maior influência.


Fonte: Cantoras do Brasil - Joyce.

Waleska


Maria da Paz Gomes (Afonso Cláudio ES, 29/09/1941 - Rio de Janeiro RJ, 14/10/2016), mais conhecida pelo pseudônimo Waleska, foi uma cantora e compositora brasileira. Ganhou o apelido de "Rainha da fossa", dado pelo então poeta Vinícius de Moraes (1913–1980). Em 1960 ela lançou seu primeiro disco pela Vogue Discos.


Waleska começou a sua carreira artística se apresentando na rádio Inconfidência e na TV Itacolomy, ao lado de Clara Nunes e de Milton Nascimento, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Mudando-se para o Rio de Janeiro foi "cronner" da boate Arpége, de Waldir Calmon, e cantou no famoso Beco das Garrafas. Em 1966 fundou um pub no bairro do Leme e recebeu de Vinícius de Moraes o slogan de "cantora da fossa".

Cantora de músicas de dor de cotovelo, o termo "fossa" apareceu várias vezes nos títulos de seus discos, como Uma noite na fossa , Waleska na Fossa e Fossa. Cantava músicas barra-pesada, mas de uma forma cool. Waleska se celebrizou no circuito de boates e, embora não tenha feito grande sucesso no rádio, tinha público cativo onde se apresentava nos anos 60 e início dos 70.

Era admirada pelo jornalista e compositor Sérgio Bittencourt (filho de Jacob do Bandolim), jurado do Programa Flávio Cavalcanti, e pelo compositor Vinícius de Moraes. Na década de 70, a intérprete criou a boate Fossa, em Copacabana, que ficou muito conhecida pelos seus frequentadores, entre eles, Juscelino Kubstcheck e Carlos Lacerda.

Autora de mais de 20 discos, Waleska destacou-se gravando composições de Tom Jobim, Ary Barroso, Cartola, entre outros. Nas décadas de 80 e 90, fez várias turnês passando pela Itália, Portugal e pelos Estados Unidos.


Fonte: Cantoras do Brasil - Waleska; Wikipédia.

Morgana


Morgana ou Isolda Corrêa Dias (São Paulo SP 2/8/1934 - idem, 4/1/2000) começou sua carreira como cantora lírica, no qual obteve êxito durante sete anos. Em 1958 passou a se dedicar à música popular, inicialmente se apresentando como Morgana Cintra.


Obteve imediatamente grande sucesso com a primeira gravação: Serenata do adeus, que tornou-se bastante conhecida através de sua gravação. Logo após gravou Mais brilho nas estrelas, que também teve grande aceitação pelo público, bem como o recente sucesso de Edith Piaf, em versão de Odair Marzano, Hino ao amor.

Em 1958 ganhou o Troféu Imprensa de melhor cantora. Seus principais sucessos foram Arrependida e Serenata do adeus, ambas de 1958, Canção da tristeza, Conselho, Este seu olhar, estas de 1959, Hino ao amor, de 1960, Não pense em mim, de 1967, e E a vida continua de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. Seus principais discos são Esta é Morgana (1959) e Morgana (1960).

Também atuou como cantora na TV. Sua canção mais famosa foi a música-tema da novela O Direito de Nascer, da extinta TV Tupi, em 1965, época em que era carinhosamente chamada de "Fada Loira".

Em 1973, no auge do sucesso no Brasil e no exterior, ela decidiu trocar a carreira de cantora por uma rede de pizzarias, montada em sociedade com o marido. Faleceu aos 65 anos e foi sepultada no cemitério Quarta Parada, em São Paulo.


Fontes: Cantoras do Brasil - Morgana; Wikipédia.

Tia Amélia


Tia Amélia (Amélia Brandão Néri), instrumentista e compositora, nasceu em Jaboatão PE em 25/5/1897, e faleceu em Goiânia GO em 18/10/1983. A mãe era pianista e o pai maestro da banda da cidade, além de clarinetista e solista de violão. Começou a tocar piano de ouvido aos quatro anos de idade e aos seis passou a estudar música, dedicando-se somente aos clássicos, por imposição do pai.


Aos 12 anos compôs sua primeira música, a valsa Gratidão. Pensava em seguir a carreira de pianista, mas o casamento, aos 17 anos, e a oposição do marido a impediram. Morando em uma fazenda em Jaboatão, passou a tocar apenas em festas de amigos, dedicando-se ainda a estudar o folclore musical da região.

Aos 25 anos, ficando viúva com três filhos, decidiu tornar-se profissional e foi contratada pela Radio Clube de Pernambuco, em Recife, onde começou a fazer sucesso. Com a fama, e resolvida a esclarecer uma questão de direitos autorais surgida com a gravação, na Odeon, de uma composição sua sem autorização, viajou para o Rio de Janeiro, em 1929, sendo contratada para se apresentar em um concerto no antigo Teatro Lírico, onde teve grande êxito, passando a ser chamada “a coqueluche dos cariocas”.

Na Odeon, além de ter ganhado seus direitos autorais, foi convidada para gravar um disco, e a repercussão de sua apresentação levou-a a tocar nas rádios Mayrink Veiga, Sociedade e Clube do Brasil. Regressou em seguida a Recife, trabalhando na Rádio Clube de Pernambuco e realizando algumas viagens ao interior, nas quais, alem de tocar, fazia pesquisas folclóricas, que serviram de tema a muitas de suas composições.

Em 1931, novamente no Rio de Janeiro, trabalhou em rádio e teve algumas de suas músicas gravadas, como a adaptação de Capelinha de melão, na voz de Elisa Coelho, e Cavalo marinho, interpretada por Stefana de Macedo. Já era compositora e interprete bastante conhecida, com muitos contratos e apresentações.

Amélia Brandão Nery, 1938
Em 1933, a convite do Itamaraty, realizou uma tournée pelas Américas, acompanhada de sua filha, a cantora Silene Brandão Nery, interpretando suas composições inspiradas no folclore brasileiro. Na Venezuela, recusou convite do governo para permanecer dois anos no país estudando o folclore local e viajou para os EUA, contratada por uma emissora de rádio de Schenectady, onde atuou durante cinco meses, sob patrocínio da General Electric.

Cumpriu depois contrato em New York e New Orleans, e em Hollywood chegou a ser convidada para participar, com Silene, de um filme da RKO, no qual trabalharia ao lado da orquestra de Rudy Vallee, mas recusou, por não querer apresentar-se cantando.

De volta ao Brasil em 1939, excursionou com Silene por todo o país, com exceção de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Com o casamento da filha, resolveu encerrar a carreira, apresentando-se uma única vez no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, e passando a morar, primeiro, em Marília SP e, depois, em Goiânia.

Anos depois, em casa de sua filha em Goiânia, ficou conhecendo a cantora Carmélia Alves, que se entusiasmou ao ouvi-la tocar valsas e choros, revivendo uma escola tradicional da música popular brasileira, a de Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros. Convencida pela cantora, voltou a se apresentar, depois de 17 anos, no Rio de Janeiro e em São Paulo, já com o nome de Tia Amélia e um repertório de chorinhos de sua autoria.

Trabalhou na Rádio Nacional, no Clube da Chave e em outros clubes cariocas, e em São Paulo atuou durante três meses na TV Record, TV Tupi e TV Paulista (hoje Globo). Viajou, em seguida, para Pernambuco trabalhando nas rádios Clube de Pernambuco e Jornal do Comércio, de Recife.

O seu grande sucesso, entretanto, foi o programa Velhas Estampas, que manteve durante 14 meses na TV-Rio, no qual, além de tocar piano e apresentar suas composições, contava histórias dos velhos tempos de sua juventude. A convite da Odeon gravou o LP Velhas estampas, interpretando ao piano diversas composições de sua autoria, entre elas os chorinhos Dois namorados, Chora, coração, Sem nome, Bordões ao luar (nome escolhido pelo poeta Vinícius de Moraes), Sorriso de Bueno e algumas valsas, acompanhada pela Banda Vila Rica.

Com esse disco, grande sucesso de vendagem, recebeu o prêmio de melhor solista e compositora do ano. Lançou depois novo LP pela Odeon, Musicas da vovó no piano da titia, e em julho de 1960 foi contratada pela TV Tupi, do Rio de Janeiro, para fazer um retrospecto da época áurea do choro brasileiro, semelhante ao que já fizera no programa Velhas Estampas.

Continuou atuante, e sua última gravação foi À benção, Tia Amélia, na Marcus Pereira, em 1980, quando já contava 83 anos de vida.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Tião Carreiro e Pardinho

Tião Carreiro e Pardinho. Dupla sertaneja forma da por José Dias Nunes (Montes Claros MG 1934—São Paulo SP 1993) e Antonio Henrique de Lima (São Carlos SP 1932-).

José Dias Nunes (Tião Carreiro) sempre cantou em dupla, inicialmente com o nome de Zezinho (com Lenço Verde), depois como Palmeirinha (com Coqueirinho) e mais tarde como Zé Mineiro (com Tietezinho), completando quatro anos de carreira. Antonio Henrique de Lima (Pardinho começou cantando com Miranda (Estevão Valério de Miranda) e depois formou uma dupla provisória com Zé Carreiro, da dupla Zé Carreiro e Carreirinho, para concorrer ao Torneio de Violeiros (1956) da Rádio Tupi de São Paulo SP.

Premiada com o cururu Canoeiro (Zé Carreiro), a dupla recebeu então convite de Teddy Vieira para gravar na Columbia, quando Antônio Henrique adotou o pseudônimo de Pardinho, lançando em disco os sucessos Facão do Cristiano (Dito Mineiro e Zé Carreiro) e Boiadeiro feliz (Zé Carreiro e Pardinho).

Teddy Vieira diretor do setor sertanejo da Columbia, procurando outro nome que substituísse o famoso Zé Carreiro, deu a Zé Mineiro (José Dias Nunes) o pseudônimo de Tião Carreiro que formou dupla com Carreirinho, fazendo diversas gravações. Mais tarde Tião Carreiro e Pardinho formaram dupla, uma vez que Zé Carreiro e Carreirinho voltaram a atuar juntos.

O primeiro sucesso da dupla foi Cavaleiros do Bom Jesus (João Alves, Nhô Silva e Teddy Vieira), gravado na Columbia, mesma gravadora que lançou seu grande êxito Boiadeiro punho de aço (Teddy Vieira e Pereira). Pela Chantecler a dupla gravou vários LPs, entre os quais Em tempo de avanço (1968), em que foi incluída A beleza do ponteio, biografia em versos do Tião Carreiro, de autoria do Capitão Furtado e musicada pelo próprio Tião.

Em 1970, a dupla foi a principal intérprete do filme Sertão em festa, de Osvaldo de Oliveira, com músicas que já haviam sido gravadas pela Chantecler, como Caboclinha malvada (Serrinha), Em tempo de avanço (Lourival dos Santos e Tião Carreiro), Jerimu (Arlindo Pinto), Mestre carreiro (Raul Torres), a moda do peão Oi, vida minha! (Cornélio Pires) e Pagode (Tião Carreiro e Carreirinho).

Mas foi no LP A força do perdão que a dupla efetivamente se consagrou no gênero, obtendo grande sucesso com a música de Piraci, Lourival dos Santos e Tião Carreiro Rio de lágrimas, também conhecida como Rio de Piracicaba.

Em 1996 Tião Carreiro foi homenageado num disco tributo, Saudades De Tião Carreiro (selo Continental), com músicas suas interpretadas por Sérgio Reis, Zezé Di Camargo e Luciano, Irmãs Galvão, Almir Sater, Chitãozinho e Xororó e outros.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Tião Carreiro

José Dias Nunes, nascido em 13 de dezembro de 1934, foi um dos maiores violeiros que o mundo sertanejo já viu. Mineiro de Monte Azul, perto de Montes Claros, criado numa fazenda de Araçatuba, no interior paulista, morreu aos 59 anos, em 1993, deixando histórias e lendas, músicas e toques que chegaram às novas gerações de aficionados da viola de 10 cordas.

Inventor do pagode caipira, mistura dos gêneros rurais paulistas e mineiros com o samba, Tião foi o primeiro a enfrentar o desafio de gravar discos com seus solos de viola. Almir Sater e Renato Andrade são alguns dos músicos que reverenciam este mestre que não era dado a sorrisos e agrados, mas que também não se fazia de rogado para, numa roda de admiradores, varar a noite na cantoria.

Figura obrigatória nas festas de rodeios do interior de São Paulo, recebido como rei nas casas da elite rural e com carta branca para gravar o que quisesse na Chantecler/Continental, onde registrou quase toda sua obra, deixou uma obra vasta e expressiva.

Compôs com vários parceiros e cantou com muita gente, mas ficou famoso duetando com Pardinho, o Antonio Henrique de Lima, paulista de São Carlos. A dupla formada no final da década de 50, nos circos do interior paulista, teve trajetória tumultuada, com separações e voltas mas brilhou em 60 e 70.

Alguns de seus maiores sucessos são: Rei do gado, de Teddy Vieira, que virou nome do primeiro LP da dupla, em 1961, Rio de lágrimas, de Tião, seu compadre Lourival dos Santos e Piraci; a divertida Viúva rica, feita com Edward de Marchi; e a genial Viola vermelha, homenagem a Florêncio, outro grande tocador de viola, assinada também por Jesus Belmiro. Do LP Em Tempo de avanço, de 1969, foi escolhida A Beleza do ponteio, moda de viola de Tião com letra do lendário Capitão Furtado, contando a saga do violeiro mineiro.

Da curta fase em que o "rei do pagode" cantou com Paraíso foi selecionada Palavra de honra, de parceria com Pedro D'Aquino. Quando formou dupla com Carreirinho - outro inspirado compositor - gravou belas modas de viola como Terra roxa, de Teddy Vieira, e Meu carro é minha viola, de Carreirinho e Mozart Novaes, esta comparando as cordas do instrumento a um carro-de-boi.

O exímio solista que dominava muitos toques e afinações pode ser apreciado nas duas faixas instrumentais selecionadas do LP É isto que o povo quer, de 1976: a moda de viola O menino da porteira e o arrasta-pé Cabelo loiro.

Depois de sua morte, não foi esquecido. Na coleção Som da Terra, da Warner, em 1994, mereceu três CDs. Em 1996, a gravadora lançou Saudades de Tião Carreiro, no qual alguns de seus sucessos com Pardinho foram remixados e ganharam a participação de novos astros sertanejos.

Fonte: Rosa Nepomuceno - Biografia compilada do encarte da Enciclopédia Musical Brasileira distribuído pela Warner Music Brasil Ltda.

Renato Teixeira


Renato Teixeira (Renato Teixeira de Oliveira), cantor e compositor, nasceu em Santos SP em 20/5/1945. Passou a infância em Ubatuba SP e com 14 anos mudou-se para Taubaté SP, onde começou a compor.


Em 1967 transferiu-se para São Paulo SP e, nesse mesmo ano, sua canção Dadá Maria foi uma das classificadas no III FMPB, da TV Record, sendo mais tarde gravada, na Odeon, por Sílvio César e Clara Nunes, e, na Philips, por ele mesmo e Gal Costa.

Em 1968 participou do IV FMPB, também na TV Record, com a música Madrasta (com Beto Ruschel), interpretada por Roberto Carlos. No VII FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro RJ, em 1972, classificou sua composição Marinheiro. Participou também da coleção Música Popular — Centro Oeste-Sudeste, da Marcus Pereira.

No ano seguinte, a Phonogram lançou Paisagem, seu primeiro LP. Em 1977 sua música mais conhecida, Romaria, foi gravado por Elis Regina em seu LP Elis.

Lançou em 1984 o LP Azul e, em 1992, pela Kuarup, o CD Renato Teixeira & Pena Branca e Xavantinho, recebendo no mesmo ano o Prêmio Sharp. Participou ainda dos discos Grandes cantores sertanejos (Kuarup, 1985) e Cantorias & cantadores (Kuarup, 1997), ao lado de Xangai, Cida Moreira, Elomar, Sivuca, Geraldo Azevedo e outros.

Em 1997 comemorou 30 anos de carreira com show no Canecão, no Rio de Janeiro.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Almir Sater


Almir Sater (Almir Eduardo Melke Sater) nasceu em Campo Grande, MS, em 14 de novembro de 1956. Desde os 12 anos tocava violão. Com 20 anos, saiu da cidade natal e foi estudar direito no Rio de Janeiro.


Pouco habituado com a vida da cidade grande, passava horas sozinho, tocando violão. Um dia, no largo do Machado, encantou-se com o som de uma viola tocada por uma dupla mineira. Desistiu da carreira de advogado e logo descobriu Tião Carreiro, violeiro que foi seu mestre. Voltou para Campo Grande e formou com um amigo a dupla Lupe e Lampião, em que era o Lupe.

Em 1979 resolveu tentar a sorte em São Paulo SP, onde conheceu a conterrânea Tetê Espíndola, na época líder do grupo Lírio Selvagem. Fez alguns shows com o grupo, depois passou a acompanhar a cantora Diana Pequeno. Mais tarde, com o projeto Vozes & Violão, apresentou-se em teatros paulistanos, mostrando suas composições.

Convidado pela gravadora Continental, gravou seu primeiro disco, Almir Sater, em 1981, álbum que contou com a participação de Tião Carreiro. Seu segundo disco, Doma (1982, RGE), marcou seu encontro com o parceiro Paulo Simões.

Em 1984 formou a Comitiva Esperança, que durante três meses percorreu mais de mil quilômetros da região do Pantanal, pesquisando os costumes e a musica do povo mato-grossense. O trabalho teve como resultados um filme de média-metragem, lançado em 1985, e o elogiado Almir Sater instrumental (1985, Som da Gente), que misturava gêneros regionais - cururus, maxixes, chamamés, arrasta-pés - com sonoridades urbanas, num trabalho eclético e inovador.

Em 1986 lançou Cria, pela gravadora 3M, inaugurando parceria com Renato Teixeira, com quem compôs, entre outras, Trem de lata e Missões naturais. Em 1989 abriu o Free Jazz Festival, no Rio de Janeiro, depois viajou para Nashville, nos EUA, onde gravou o disco Rasta bonito (1989, Continental), encontro da viola caipira com o banjo norte-americano.

Convidado para trabalhar na novela Pantanal, da TV Manchete, projetou-se nacionalmente no papel de Trindade, enquanto composições suas como Comitiva esperança (cantada em dupla com Sérgio Reis) e Um violeiro toca (gravada por Renato Teixeira) estouravam nas paradas de sucesso.

Em 1990-1991 participou da novela A historia de Ana Raio e Zé Trovão, também da TV Manchete, mas em seguida se afastou da televisão, pois as gravações não lhe deixavam tempo para a música.

Gravou ainda Instrumental II (1990, Eldorado), Almir Sater ao vivo (1992, Sony), Terra dos sonhos (1994, Velas) e Caminhos me levem (1997, Som Livre), além de diversas coletâneas. Voltou a TV em 1996, obtendo grande êxito como o Pirilampo da novela O Rei do Gado, da TV Globo.

Algumas músicas










Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

sexta-feira, abril 06, 2007

Walter Wanderley


Walter Wanderley (Walter José Wanderley Mendonça), instrumentista, nasceu no Recife/PE em 12/5/1932, e faleceu em São Francisco, EUA em 1/9/1986. Iniciou carreira como organista e pianista em Pernambuco.


Em fins da década de 1950 mudou para São Paulo onde integrou, em 1958, o conjunto do Bar Claridge. Em seguida, levado por Isaura Garcia (com quem casou mais tarde), passou a tocar piano no conjunto da boate Oásis.

Em 1959 estreou em disco, tocando órgão na gravação de E daí?... (Miguel Gustavo), na Odeon, por Isaura Garcia. Tocou ainda nas boates Michel e Reverie, e apresentou-se em bailes e na televisão.

Em 1960 começou a trabalhar no Captain’s Bar, no Hotel Comodoro, no conjunto que mais tarde passou a chamar-se Walter Wanderley e seu Conjunto, com ele no órgão. Em 1961 gravaram o LP Walter Wanderley e o bolero, na Odeon, com Sabor a mí (Alvaro Carrillo) e Solamente una vez (Agustín Lara), entre outras. O conjunto passou a acompanhar, na televisão e em gravações, diversos cantores, como João Gilberto, Isaura Garcia, Dóris Monteiro, Francisco Egidio, Morgana e outros.

Em 1962 lançou o LP Samba é samba, com O barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) e Palhaçada (Haroldo Barbosa e Luiz Reis), entre outras, e no ano seguinte o LP O samba é mais samba, entre outras, com Corcovado (Tom Jobim) e A mesma rosa amarela (Capiba e Carlos Pena Filho), ambos pela Odeon.

Em 1964, o conjunto, com nova formação, apresentou-se no Juão Sebastião Bar e passou a gravar na Philips. Ainda nesse ano, saíram os LPs Órgão sexy e Entre nós, e, nos anos seguintes, O autêntico (1965) e Sucessos + boleros = Walter Wanderley (1966).

Transferindo-se para os EUA, onde fixou residência na costa oeste, lançou pela etiqueta Verve os LPs Chegança (1967) e Batucada (1968), e pela AM Records, When it Was Done, em 1969, e Moondreams, em 1970.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Sérgio Ricardo

Sérgio Ricardo (João Mansur Lufti), compositor, cantor, instrumentista e cineasta, nasceu em Marília-SP, em 18/6/1932. Filho de um libanês que tocava alaúde, aos oito anos começou a estudar piano em conservatório e, pouco depois, a tocar em festas de amigos.

Aos 17 anos, mudou-se para São Vicente-SP, onde trabalhou na Rádio Cultura como discotecário, técnico de som e locutor. Ainda no litoral paulista, por pouco tempo, tocou piano na boate Recreio Prainha, de São Vicente.

Em 1952 mudou-se para o Rio de Janeiro, cursando o científico no Colégio Lafayette. Na mesma época, arranjou emprego numa boate em Copacabana, substituindo Tom Jobim, que ia trabalhar como arranjador na gravadora Continental. No meio musical do Rio de Janeiro, ficou conhecendo — além de Tom Jobim — Johnny Alf e João Gilberto.

Ainda nessa época, ingressou na E.N.M.U.B., onde estudou orquestração. Foi também nesse período que começou a compor e a cantar, continuando a tocar em boates. Ouvido pelo compositor Nazareno de Brito, foi convidado a gravar um 78 rpm e logo depois outro, com a toada de sua autoria Cafezinho. Mas seu primeiro sucesso foi gravado por Maysa em 1955, na RGE, o samba-canção Buquê de Isabel.

Mais tarde, numa viagem que fez a São Paulo, trabalhou como ator em televisão, obtendo relativa popularidade. Por essa época, integrou o grupo de músicos liderado por João Gilberto, que se reunia para discutir a bossa nova, no inicio do movimento. Em 1960 lançou o LP A bossa romântica de Sergio Ricardo, pela Odeon, participando também de vários shows de bossa nova, tournees e apresentações em televisão. Nessa época, seu maior sucesso foi a composição Pernas.

Pouco depois, começou a se afastar dos caminhos da bossa nova e lançou o samba Zelão, um de seus maiores êxitos. Iniciou então seu primeiro filme, O menino da calça branca, curta- metragem feito com Nelson Pereira dos Santos. Terminado em fins de 1961, o filme representou o Brasil no festival de cinema de San Francisco, EUA, em 1962, obtendo o segundo lugar. De San Francisco, foi para New York, participando do Festival da Bossa Nova, no Carnegie Hall.

Permaneceu nos EUA ainda algum tempo, cantando em boates. Retornou ao Brasil em 1963, quando fez o longa-metragem Esse mundo é meu (montagem de Rui Guerra), com músicas de sua autoria, que teve grande repercussão. No mesmo ano, compôs e fez os arranjos da trilha sonora do filme Deus e o Diabo na terra do Sol (Gláuber Rocha), lançada depois em LP de mesmo nome, pela gravadora Forma. No mesmo ano, gravou o LP Um senhor talento, pela Elenco.

Em 1964, produziu para o governo do Líbano o filme O pássaro da aldeia, media-metragem rodado naquele país. De volta ao Brasil, no ano seguinte fez o show Esse mundo é meu, com roteiro e direção de Chico de Assis. Ainda em 1965, compôs a trilha sonora para o filme Terra em transe (Gláuber Rocha) e fez as músicas da peça O coronel de Macambira (Joaquim Cardoso). Dois anos depois gravou na Philips o LP A grande música de Sergio Ricardo e participou de vários festivais.

Por ocasião do II FMPB, da TV Record, de São Paulo, em 1967, inscreveu sua música Beto bom de bola. Classificada para a final, debaixo de vaias, não conseguiu apresenta-la, acabando por quebrar seu violão e atira-lo sobre o público, sendo desclassificado. Participou ainda de outros festivais, como a Bienal do Samba e promoções da TV Excelsior, do Rio de Janeiro, e TV Record. Tomou parte também no Festival da Canção de Protesto, realizado na Bulgária, onde duas composições suas foram interpretadas por Geraldo Vandré.

Em 1968 realizou, no Teatro de Arena, de São Paulo, o show Sergio Ricardo e a praça do povo, feito com Chico de Assis e dirigido por Augusto Boal. No mesmo ano, escreveu o roteiro musical para O auto da compadecida, peça de Ariano Suassuna.

Em 1969 completou a filmagem de Juliana do amor perdido, com Roberto Santos, que estreou no ano seguinte. Gravou um novo LP, Arrebentação, pela Equipe, em 1970, e, depois, pela Continental, Sérgio Ricardo (1973), A noite do espantalho (1974), trilha sonora de seu filme de mesmo nome, rodado em Nova Jerusalem PE e Do lago e cachoeira (1979).

Apresentou-se em 1980 no festival de Varadero, em Cuba, com Chico Buarque lançando no mesmo ano, pela Continental, um LP com Geraldo Vandré. Em 1983 compôs e fez arranjos para o cordel de Carlos Drummond de Andrade, Estória de João-Joana, sendo a obra gravada pela Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

De 1983 a 1988 escreveu, dirigiu e compôs a trilha musical de vários filmes de curta-metragem (Traço e cor, Dançando Villa-Lobos, o único no qual nao compôs a parte musical, Voz do poeta, com Ferreira Gullar, O espetáculo continua).

Lançou em 1991 o livro Quem quebrou meu violão (Record, Rio de Janeiro), análise da cultura brasileira nas décadas de 1940 a 1990. No mesmo ano, foi realizada a Semana Sérgio Ricardo, com apresentação de seus filmes, pinturas, discos, livros e espetáculos, no MIS de São Paulo.

Em 1994 fez shows em Lisboa, Portugal, onde gravou um disco com musicas africanas, portuguesas e brasileiras. Apresentou-se também em Angola e Guiné Bissau, Em 1996 ganhou o Prêmio Candango, no Festival de Brasília DF, pela trilha sonora do filme O lado certo da vida errada, de Otavio Bezerra. Em 1996 compôs a trilha sonora da minissérie Zumbi dos Palmares e, em 1997, da novela Mandacaru, ambas exibidas pela TV Manchete.

Em 1999, o espetáculo "Estória de João-Joana", encenado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, marcou sua volta à cena artística. O musical contou com a participação de Chico Buarque, Elba Ramalho, Alceu Valença, Telma Tavares e Zélia Duncan.

Lançou, em 2001, o CD Quando menos se espera.

Em abril de 2005, inaugurou, na Villa Riso (RJ), a exposição "Transparência", com suas pinturas mais recentes.

Embora trabalhe geralmente sem parceiros, compôs algumas músicas para letras de outros autores. É autor de uma única letra para música de outro compositor: Canto de boiadeiro (c/ Bororó Felipe).

Publicou os livros "Quem quebrou meu violão" (Editora Record, 1991), um ensaio sobre a cultura brasileira no período 1940-1990, e "Elas", uma coletânea de suas poesias.


Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998; Dicionário Cravo Albin da MPB.

Rosinha de Valença

Rosinha de Valença (Maria Rosa Canelas), instrumentista e cantora, nasceu em Valença RJ em 30/7/1941. Ainda criança começou a se interessar por violão, assistindo aos ensaios do conjunto regional de seu irmão Roberto. Estudou sozinha, ouvindo músicas de rádio, e aos 12 anos já tocava violão num regional que animava bailes e na Rádio de Valença, acompanhando cantores.

Em 1960 abandonou os estudos para se dedicar à carreira musical, indo para o Rio de Janeiro em 1963. Através de Sérgio Porto, conheceu, na boate Au Bon Gourmet, o violonista Baden Powell e Aloysio de Oliveira, produtor da gravadora Elenco, que a contratou para gravar seu primeiro disco, Apresentando Rosinha de Valença. Seu nome artístico foi criado por Sérgio Porto, que costumava dizer que ela tocava por uma cidade inteira.

Ainda em 1963, foi sucesso durante oito meses na boate carioca Bottle’s. Seguiram-se apresentações em televisão, radio, teatro e outras casas noturnas, e em maio de 1964 apresentou-se no show O fino da bossa, no Teatro Paramount, em São Paulo. No fim do mesmo ano, excursionou durante oito meses pelos EUA com o conjunto Brasil 65, de Sérgio Mendes, e gravou dois discos. Viajou novamente no final de 1965, participando como solista de um grupo de música brasileira, patrocinado pelo Itamaraty, que se apresentou em 24 países europeus.

Foi a violonista do espetáculo Comigo me desavim, de Maria Bethânia, em 1967, e no ano seguinte iniciou uma série de apresentações na ex-U.R.S.S., Israel, Suíça, Itália, Portugal e países africanos, voltando ao Brasil em 1971. Trabalhou então com Martinho da Vila, participando de seus quatro LPs seguintes.

Realizou depois novas tournées no exterior, e de volta, em 1974, organizou uma banda que teve várias formações e contou com a participação de artistas como o pianista João Donato, o flautista Copinha e as cantoras Dona Ivone Lara e Miúcha.

Um dos espetáculos da sua banda foi gravado pela Odeon, que lançou em 1975 o LP com o título Rosinha de Valença e banda. Tem ainda 11 LPs editados no Brasil, EUA, ex-R.F.A. e França, em diversas marcas, entre as quais RCA, Odeon, Forma, Pacifíc Jazz e Barclay. Abandonou a carreira artística algum tempo depois, por motivos de saúde.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora

A história da Bossa Nova - Parte 3

Foto: Sylvia Koscina, João Gilberto, Tom Jobim e Mylene Demongeot.
Nas boates Cave e Oásis, em São Paulo, foi lançada, com grande sucesso, a cantora e compositora Maysa Monjardim. A Praça Roosevelt, hoje urbanizada com estacionamentos subterrâneos, túneis, supermercado e outras construções, era então um espaço asfaltado, onde durante o dia estacionava um mar de automóveis, à exceção daqueles reservados à feira livre, ou dos fins de semana, quando lá aconteciam simultaneamente vários jogos de futebol do tipo “pelada”.

Neste terreno atrás da igreja da Consolação funcionava uma espécie de praia dos paulistas em pleno centro da cidade. À noite, o pessoal a atravessava, com saudosas condições de segurança, para se deslocar da Baiúca, onde tocavam, por exemplo, os conjuntos de Pachá, Moacyr Peixoto, Luiz Loy ou do vibrafonista Garoto, até o outro lado da praça, onde funcionou o Delval de Caco Velho, o primeiro Stardust, onde Alan e Hugo tiveram como crooner, por exemplo, Jane Moraes, e como tecladistas Hermeto Paschoal ou Eli Arcoverde.

Neste mesmo “outro lado da praça”, fizeram sucesso o Bon Soir, onde pontificava Walter Santos, ou o Farney’s, que depois virou Djalma, que depois se tornou Zum-Zum e que também entrou na onda dos shows de bolso. Também já faziam a noite paulista Agostinho dos Santos, Maysa e Juca Chaves, que mais tarde participariam dos primeiros espetáculos do gênero realizados na cidade, como o denominado “Festival Nacional da Bossa Nova”, promovido pelo então colunista social Ricardo Amaral, em abril de 1960, no Teatro Record.

Como no Rio, entre as gravações mais curtidas por certo tipo de público que viria a se encantar com a nova Bossa Nova estavam a versão cantada por Chet Baker, de My Funny Valentine, e Cry Me a River, com Julie London acompanhada pelo guitarrista Barney Kessel. Na imprensa e nas rádios, a repercussão dos primeiros discos de Bossa Nova, particularmente o de João, foi evidentemente de perplexidade, entusiasmo, e em alguns casos até de indignação No meio dessas polêmicas, pode-se discutir precedências ou premonições, mas a verdade é que tiveram imediata e entusiástica repercussão em colunas como as de Armando Aflalo ou Adones Oliveira, assim como em programas de disc-jóqueis como Fausto Canova. Henrique Lobo, Fausto Macedo ou Walter Silva.

São desta época duas frases infelizes, não definitivamente esclarecidas ou superadas, mesmo decorridos 35 anos, e que são inevitavelmente lembradas por quem pretenda estender ao campo da Bossa Nova o espírito de rivalidade entre paulistas e cariocas. Uma delas, em sua versão mais suave, foi proferida logo após quebrarem o disco 78 rpm de João Gilberto, e teria a forma de uma pergunta: “Por que gravam cantores resfriados?”. Sua autoria permanece em dúvida, variando do próprio diretor de vendas da gravadora Odeon em São Paulo até o gerente comercial das Lojas Assunção, então a maior cadeia de eletrodomésticos e de discos do país.

A outra, de Vinícius de Moraes, chamava a cidade de “túmulo do samba”, gerando enormes reações a ponto de, em janeiro de 1965, o poetinha ter escrito quatro crônicas para o Diário Carioca, preocupado em esclarecer as circunstâncias nas quais teria sido pronunciada.

Segundo ele, o comentário fora endereçado a Johnny Alf, para fazer desaforo a um grupo de grã-finos que estavam bêbados, na boate Cave, e comentaram em voz alta que aquele “cara” desafinava e “não tocava coisa com coisa”. Curiosamente, foi nestes artigos, sob o título de “SP não é mais o túmulo do samba”, que pela primeira vez ele fez referência a certo futuro parceiro, “Chico (..) (filho de meu querido amigo o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda) cujos sambinhas são muito bons”.

Entre as respostas à ofensa do poeta, a de um grupo de artistas e jornalistas paulistas, ou lá radicados, foi promover “reuniões de bossa”, que aconteciam em residências como as do maestro Souza Lima, de Renato Mendes ou de Maricene Costa, sempre aos sábados à tarde. Faziam parte desta turma, entre outros, Theo de Barros, Alaíde Costa, Claudete Soares, César Mariano, Walter Wanderley, Yvette, Adones Oliveira, Alberto Helena Jr., Franco Paulino, Luiz Vergueiro, Solano Ribeiro e Moracy do Val. Alguns destes últimos, a partir de janeiro de 1963, passaram a produzir “noites de Bossa”, às segundas-feiras no Teatro de Arena, porque não dava mais para reunir em residências particulares todo o público interessado em participar desses encontros.

Mais tarde ainda, os mesmos produtores promoveram espetáculos musicais no Teatro Maria Della Costa, inclusive uma releitura de Orfeu do Carnaval, que havia vencido em 1954 o concurso de textos teatrais inéditos, por ocasião dos festejos do IV Centenário de São Paulo. O papel principal coube a Agostinho dos Santos.

Paralelamente aos shows, de palco e de arena, e também aos espetáculos em faculdades, que continuavam a mobilizar a geração mais jovem em torno da nova música brasileira, um outro grupo, liderado por Márcio Martins Moreira, mais tarde prestigiado publicitário nos Estados Unidos, se apresentava na rede de teatros de bairro mantida pela Prefeitura. Eram shows à luz de velas, que reuniam, entre outros, os compositores, cantores e violonistas Sérgio Augusto e Zelão, o pianista Nelson Ayres e a cantora Sonia.

Entre essa fase, de shows na escala da casa noturna, do auditório de universidade, dos teatros pequenos e médios, e a era dos grandes espetáculos no Teatro Paramount e na TV Record, merece citação especial O Fino da Bossa, que causou uma mudança de rumo na forma e talvez no conteúdo desses eventos. Este foi realizado em maio de 1964 e teve seu título utilizado posteriormente para um programa semanal de televisão, na Record, estrelado por Elis Regina.

O teatro, com capacidade da ordem de 1.800 espectadores sentados, ficava na contramão da convencionada região musical da cidade, isto é, estava localizado do lado contrário ao da Praça Roosevelt, no fim da Brigadeiro Luiz Antonio, próximo à Praça da Sé e ao Largo de São Francisco, Era proposta de seus organizadores — um grupo do Centro Acadêmico XI de Agosto, liderado por Horácio Berlinck Neto e Eduardo Muylaert e reunindo universitários de diferentes formações — realizá-lo em padrões o mais que possível profissionais. Todos os artistas seriam formalmente contratados, pois os organizadores eram todos estudantes de Direito — canções inéditas seriam incluídas, com arranjos especiais, e o evento seria registrado em disco LP a ser comercializado imediatamente após sua realização. A direção musical coube a Oscar Castro Neves, também autor de Onde Está Você?, em parceria com Luvercy Fiorini, que foi interpretada por Alaíde Costa, acompanhada por um noneto, constituindo-se na faixa principal do referido disco.

As circunstâncias, inclusive o elenco, o local e a expectativa criada levaram o grande teatro a ficar superlotado, com o público excedente chegando a quebrar as portas na tentativa de assistir o espetáculo. Participaram ainda o recém-criado Zimbo Trio, Rosinha de Valença, Nara Leão, Jorge (então) Ben, os trios de Sérgio Mendes e de Edson Machado, Wanda, Ana Lúcia (estas duas, também acompanhadas pelo noneto de Oscar), Paulinho Nogueira, Claudete Soares, Marcos Valle, Os Cariocas, Geraldo Cunha, Luiz Henrique e Walter Wanderley, tendo o disco encabeçado por alguns meses as listas de vendagem no País.

A partir dali, aquele espaço foi assumido como novo “templo da Bossa em São Paulo”, mudada a escala desses eventos, alteradas as relações entre artistas e promotores, e aberto novo mercado — o dos shows ao vivo — para o grande mercado fonográfico. Toda uma série de espetáculos seguiu-se ao Fino, comandados por Walter Silva, o Pica-pau, responsável, entre outros, pelo Samba Novo, Mens Sana in Corpore Samba, Bo-65, O Remédio é Bossa, Historinha, Primeira Denti-Samba e outros, alguns registrados em disco com grande sucesso, como o Dois na Bossa, que manteve por algum tempo o recorde de vendagem de disco nacional.

Ampliava-se o sucesso da música popular do Brasil. Porém essa nova escala tenderia a levar ao afastamento de alguns traços e características fundamentais do movimento da Bossa Nova, entre os quais o intimismo.

Como no Rio, as novidades da Bossa Nova eram freqüentemente geradas e difundidas em casas e apartamentos de universitários, gente da classe média, como Horácio Berlinck Neto e João Evangelista Leão, nos Jardins; Caetano Zama, que morava na região da Paulista, ou Ana Lúcia e Miúcha Buarque de Holanda, no Pacaembu. A mansão dos Berlinck, na Rua Itália, contava com todos os itens necessários a reuniões deste tipo — piano, bateria, contrabaixo, violão. “Minha mãe, tia Helena, era um barato. Recebia todo mundo, dava casa, comida e roupa lavada. Passei momentos inesquecíveis ali”, recorda Horácio. Primo da cantora Wanda Sá, volta e meia ele ia para o Rio, onde também participou de várias reuniões nas casas de Nara Leão e de Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli.

Por volta de 1960, Horácio foi trabalhar como programador musical na Rádio Eldorado, “Ali, a gente tinha um gosto musical muito apurado”, afirma ele, que mais tarde coordenou o espetáculo O Fino da Bossa, no Teatro Paramount. Foi um dos produtores de Primeira Audição, no teatro do Colégio Rio Branco e na TV Record, onde também participou da produção do programa de Elizeth Cardoso (Bossaudade) e do de Elis Regina, Zimbo Trio e Jair Rodrigues, com o mesmo título daquele show do Paramount.

Quando Horácio deixou a emissora, o programa passou a chamar-se simplesmente O Fino, onde foi diretor cultural numa época em que lá era freqüente a presença de artistas como Dick Farney, Isaurinha Garcia, Vinícius, Paulinho Nogueira, Johnny Alf, Geraldo Vandré ou Ana Lúcia. Foi durante cinco anos produtor do talk show de Silveira Sampaio, o mais importante da época, programa que “batia papo com gente desde cangaceiro até astronauta, de travesti a presidente, e com muitas personalidades da música.

Naquele tempo, a turma da Bossa era uma fonte inesgotável...”. A casa de Evangelista, na Rua Cuba, assim como seu sítio em Jundiaí eram pontos de encontro de longas e animadas reuniões musicais, principalmente durante a época dos musicais da Record, dos quais participou, assim como Horácio Berlinck, da produção, ao lado da Equipe A (Tuta Carvalho, Nilton Travesso, Raul Duarte e Manoel Carlos) e de Zuza Homem de Mello, que aliás era contrabaixista de jazz durante os anos de início da Bossa Nova. Pesquisas de repertório, ensaios, montagem de números especiais ou garimpagem de novas músicas e músicos, tudo era pretexto para que as casas de Leão e de Horácio estivessem sempre cheias de gente, como os músicos do Zimbo, Elis, Cyro Monteiro, Alaíde, Fernando Faro, Arley Pereira, Chico, Toquinho, os baianos e os militantes da política universitária.

Já a mansão da família Zammataro, na Alameda Joaquim Eugênio de Lima, perto da Avenida Paulista, era base paro encontros do pessoal da música e também do teatro paulista. Seu filho mais velho, Caetano Zama, estudava na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e também na Escola de Arte Dramática (EAD), de Alfredo Mesquita, além de compor, cantar e tocar violão, tendo constituído com Agostinho dos Santos e Ana Lúcia o trio de paulistas que participou do recital do Carnegie Hall. Sempre havia disponível um quarto de hóspedes para albergar o pessoal bossa-novista que vinha do Rio, como Sergio Ricardo ou Oscar Castro Neves.

João Gilberto era hóspede freqüente, mas preferia dormir na sala. Foi lá que João mostrou, pela primeira vez em São Paulo, sua interpretação de Insensatez. São muito lembradas até hoje as reuniões de sábado à tarde e os reveillons dos Zama, onde conviviam Agostinho dos Santos, Maysa, Flavio Rangel, Gianfrancesco Guarnieri, Alaíde Costa e Maria Lima, Aracy Balabanian, Juca de Oliveira, Vandré, Roberto Freire e muitos outros.

Psicanalista e professor da EAD, Freire foi o primeiro parceiro de Caetano Zama (Mulher Passarinho, de 1958) e, anos depois, mentor do grupo teatral da PUC que montou Morte e Vida Severina, ganhando o Festival de Nancy de Teatro Universitário (1966).

Ana Lúcia gravou seu primeiro disco nos primórdios do movimento. Com composições de Tom Jobim e arranjos de Guerra peixe. Lembra que seu primeiro contato com a Bossa Nova foi através do disco Amor de Gente Moça, de Sylvinha Telles. Encantada, resolveu tentar a carreira participando dos programas da TV Tupi Almoço com as Estrelas e Clube dos Artistas, onde foi vista por Agostinho dos Santos, que a estimulou a continuar cantando. Seu apartamento na Rua Piauí, em Higienópolis, era outro ponto de encontro da turma.

Foi lá que aconteceu uma famosa história de João Gilberto, quando ele, irritado com o relógio de parede que cantava a toda hora, parou de tocar e só voltou ao violão depois que pararam o funcionamento do cuco.

Quanto à casa do professor Sérgio e de Maria Amélia Buarque de Holanda, na Rua Buri, perto do Estádio do Pacaembu, sempre foi local de encontro de intelectuais. Quando começou o movimento da Bossa Nova, Heloísa (Miúcha), sua filha mais velha, tocava violão e cantava, com repertório que ia desde Noel Rosa até Vinícius de Moraes e Paulo Vanzolini, estes últimos freqüentadores assíduos da casa. Os sucessos das músicas de Orfeu e de Canção do Amor Demais haviam aumentado consideravelmente o prestígio de Vinícius junto à turma de Miúcha, que já tinha o privilégio de conhecer de primeira mão as composições de Vanzolini, professor da USP diretor do Museu de Zoologia, grande contador de casos e autor de excelentes sambas, na linha mais tradicional.

Em 1960, Miúcha participou, cantando e acompanhando-se ao violão um espetáculo do Grupo Teatral Politécnico homenagem a Manuel Bandeira amigo da família Buarque, que havia quarenta anos não voltava a São Paulo, onde estudara na Poli e fora sócio fundador do Centro Acadêmico. Por Causa disso, foi entrevistada na televisão, provocando forte reação de dona Maria Amélia, que preferia ter os talentos dos filhos limitados às reuniões da Rua Buri.

Em outubro de 1964 aconteceu a gravação, no colégio Rio Branco, do piloto do programa Primeira Audição, apresentado por Elis Regina e Luiz Chaves, produzido para a TV Record por Horácio Berlinck Neto, João Evangelista Leão e Eduardo Muylaert. Deste espetáculo participaram vários jovens artistas pouco conhecidos, como Chico Buarque, Yvette, Toquinho, Tuca, Nelson Ayres, Taiguara, Luz Roberto Oliveira, Adylson Godoy, Zelão, Hamilson Godoy e outros.

A partir do show original, foram editados os três programas de uma série que durou seis meses e serviu de embrião para o programo O Fino da Bossa, com Elis Regina, Zimbo Trio e Jair Rodrigues. O surgimento dessa nova fornada de músicos foi saudado por alguns críticos, entre eles Moracy do Val e Thomás Souto Correa, como a “nova Bossa Nova”, e por outros como uma primeira geração pós-bossa, por ela muito influenciada, porém sem fortes compromissos com a mesma.

A cantora Yvette foi talvez quem permaneceu mais fiel à Bossa Nova, embora não se tornasse suficientemente conhecida fora de São Paulo. Revelada nos shows universitários, participou de vários espetáculos do Paramount e das reuniões do grupo de Theo, César e Maricene. Trabalhou com Edu Lobo, tanto em noitadas no Teatro Arena como em seu programa Edu Bem Acompanhado, na TV Tupi, produzido por Goulart de Andrade. Foi a primeira intérprete de Preciso Aprender a Ser Só, com arranjo de Oscar Castro Neves, num show do Arena, assim como de várias outras composições de Marcos e Paulo César Valle.

Era presença permanente, ainda, em dois programas de TV também na Tupi, importantes não só por seu padrão musical mas também pela pesquisa de novos formatos para o musical de televisão: Móbile e Poder Jovem, ambos de responsabilidade de Fernando Faro. Aliás, a essa altura não faltavam programas de televisão nos qual a Bossa Nova predominasse como o Gessy às Nove e Meia, de Eduardo Moreira, o Musical Três Leões, de Walter Arruda e Cecil Thiré, que chegou a apresentar várias vezes o próprio João Gilberto como figura central, ou o Julio Rosemberg Show, no qual a parte “um-banquinho-e-um-violão”, cabia ao compositor e violonista Sérgio Augusto.

Maricene Costa cantava na noite, acompanhada pelos conjuntos mais modernos da época; participou dos circuitos e espetáculos universitários e mais tarde foi para os Estados Unidos, sob contrato com uma gravadora especializada em jazz. Foi parceira de Vera Brasil, com quem chegou a ganhar o segundo prêmio num festival da TV Excelsior. Sua casa foi uma das bases do grupo de Bossa Nova de São Paulo que se rebelou após a célebre frase de Vinícius.

Não dá para falar da Bossa Nova paulista sem citar três cantoras cariocas que marcaram o período com participações importantes, em boates, teatros e discos: Alaíde Costa, Claudete Soares e Marisa Gata Mansa. Claudete cantava no início de carreira no Rio, no Hotel Plaza, dividindo as atenções com Sylvinha Telles. Quando esta se casou com Candinho, deixou Claudete sozinha no Plaza. “Ali foi o berço da Bossa Nova”, garante ela, que participou de vários shows no Rio, inclusive na Faculdade de Arquitetura. “Ficava enlouquecida, porque adorava esse tipo de música, mas tinha que voltar para o estúdio da Rádio Nacional para gravar baião. Eu dizia para mim mesma : não é isso o que eu quero.”

Quando Agostinho dos Santos a viu cantando no Plaza, convenceu-a a ajudá-lo a “levar esse movimento para São Paulo”. Começou na Baiúca, mas logo se indispôs com o proprietário por motivos de repertório e passou a cantar no Cambridge, de onde diz ter as melhores lembranças, “porque lá o pessoal ia por causa da música, os freqüentadores eram os próprios artistas”, segundo ela. Mas foi também musa do João Sebastião Bar, onde era considerada a pocket singer dos pocket shows.

Foi no bar do Cambridge que formaram um quarteto vocal — ela, Alaíde, Pedrinho Mattar e o contra baixista Matias Matos — a que denominaram Os Bossais, de início por brincadeira, e mais tarde resultando num disco que se tornou uma raridade para os colecionadores.

Já Alaíde Costa, que havia sido revelação do ano no Rio, em 1957, e cooptada por João Gilberto para incluir três músicas de Bossa Nova em seu primeiro LP em 1959, conquistou o público paulista a partir do show Festival Nacional da Bossa Nova, um ano depois, no Teatro Record. Em 1962 casou-se com o radialista Mário Lima e foi morar de vez em São Paulo, onde teve grandes sucessos em boates, festivais e teatros, com alguns pontos altos como o show O Fino da Bossa, do Paramount, e o recital Alaíde Alaúde, no Teatro Municipal, sob a direção do maestro Diogo Pacheco. Como compositora Alaíde fez músicas e letras, inclusive em parceria, entre outros, com Tom Jobim e Vinícius.

Quanto a Marisa, ou Gata Mansa, de origem no jazz, no Rio de Janeiro, foi crooner do Copacabana Palace, intérprete destacada do repertório de Dolores Duran, e estrela de shows do Beco das Garrafas, Tendo casado com o pianista e arranjador César Camargo Mariano, mudou-se para São Paulo, onde viveu durante sete anos. No período teve algumas experiências teatrais, entre as quais um musical com Lennie Dale e um espetáculo no Arena, com Caetano Veloso e Taiguara.

Impõe-se pelo menos a citação de outras personalidades femininas que tiveram passagem marcante naquela época, em São Paulo, como a violonista e compositora Vera Brasil, autora de O Menino Desce o Morro, gravação de sucesso de Geraldo Cunha, e Tema do Boneco de Palha, e que participou de espetáculos com Claudete, Pedrinho Mattar e conjunto no João Sebastião, ou a cantora Márcia, que alcançava grande êxito no Estão Voltando as Flores, inclusive apresentando interpretações novas de músicas de Johnny Alf.

No segundo semestre de 1959, ano do primeiro LP de João Gilberto, Tom Jobim apresentava, na TV Paulista, o programa O Bom Tom, no qual apresentava os principais nomes do movimento carioca e abria oportunidades para autores e intérpretes da Paulicéia. Na mesma época, boates como Michel, Oásis e Baiúca anunciavam novas programações baseadas no repertório e no estilo da Bossa Nova. Na Cave, por exemplo, eram anunciados, além de um cantor de rock, Ana Lúcia, Johnny Alf e trio e a participação especial de Booker Pittman, que compunha à época, com Hector Costita e Enrico Simonetti, um trio de ouro de músicos estrangeiros radicados em São Paulo e que tiveram participação no movimento.

Em setembro de 1959, Vinícius de Moraes teve um encontro com os alunos da Politécnica, superlotando o maior dos auditórios da faculdade e resultando numa crônica que tem sido incluída em suas antologias. Mais até do que poesia, mulher e política, temas da divulgação do evento entre os universitários, foi o novo movimento musical que motivou maior número de perguntas e debates.

O modo diferente de João cantar e de tocar violão, o futuro da Bossa Nova sendo perene ou um mero modismo, a possibilidade de Norma Bengell ser enquadrada como cantora ou não, tudo sinalizava por uma grande valorização do tema pela juventude de então. O evento foi encerrado com o poeta tirando do bolso o manuscrito da letra de uma música nova que ele ainda não decorara e que cantou, acompanhado por Caetano Zama, em dueto com Mariana Pôrto de Aragão, uma “cantorinha promissora”, para quem ele previa uma bela carreira na Bossa Nova. A canção era Samba em Prelúdio, e Mariana abandonou pouco depois a carreira, para casar-se com seu empresário e dono da boate Cave, Jordão de Magalhães.

São Paulo sempre se caracterizou pelo alto nível de seus instrumentistas, e o movimento da Bossa Nova trouxe no mínimo o resgate do violão e a revalorização do trio piano/baixo/bateria. Para não retroceder demais no tempo, pelo menos desde os áureos tempos do Teatro Brasileiro de Comédia e da Cinematográfica Vera Cruz, criados por Franco Zampari, São Paulo passou a ter um local onde se praticava permanentemente o jazz e a música nacional por ele influenciada.

Essa base era o Nick Bar, de Joe Kantor, vizinho ao TBC e ao qual havia acesso direto através da sala de espera do teatro. Ponto de encontro de artistas, intelectuais e socialites, ali se apresentaram os principais pianistas da década de 50 — basta citar, por exemplo, Dick Farney, que inclusive gravou, em homenagem a ele, uma depois célebre canção, de autoria de Garoto e J, Vasconcelos.

Vários foram os instrumentistas que se destacaram durante o período de apogeu da Bossa Nova - digamos, de 1959 a 1964 -, a começar por Johnny Alf, que passara a viver em São Paulo quatro anos antes e que trabalhou em pelo menos uma dezena de casas noturnas, entre as quais Cave, Baiúca, Michel e Stardust. Em 1961, quando voltou para o Rio de Janeiro, acabara de gravar seu primeiro disco, que incluía Rapaz de Bem, Ilusão à Toa e O que É Amar.

Naquela época despontava no Rio de Janeiro uma das mais importantes figuras da música brasileira: o violonista Baden Powell. Antes mesmo de o movimento da Bossa Nova existir, Baden já era um conceituadíssimo e exímio instrumentista. Seu violão transcende a qualquer movimento musical, mas o advento da Bossa Nova trouxe a Baden Powell a possibilidade de compor e tocar com e para músicos de alta qualidade.

Foi um dos grandes parceiros de Vinícius de Moraes, com quem escreveu clássicos como Samba da Bênção, Pra que Chorar, Formosa, Berimbau, Canto de Ossanha e Apelo. Entre inúmeras outras canções, o grande violonista também compôs Samba Triste, com Nilo Queiroz, Lapinha e Aviso aos Navegantes, com Paulo César Pinheiro, Cidade Vazia e Feitinha pro Poeta com Lula Freire.

Na gravação de um disco do compositor francês Michel Legrand, uma certa faixa do disco Sérénades du XXême Síècle, a difícil peça He Antonio não era tocada pelos violonistas espanhóis presentes à gravação, como Legrand queria. “Chamem Baden Powell”, sugeriu um músico da orquestra. Assim foi feito e, uma vez no estúdio, Baden, de primeira, executou o tema exatamente como havia sido escrito, superando mesmo as expectativas do genial Michel Legrand. Depois de alguns anos morando em Paris, Baden voltou para o Brasil. Retornando para mais uma temporada na Europa, escolheu viver uns tempos na Alemanha, Curiosamente, na cidade de Baden-Baden!

Em l964 dois instrumentistas de grande prestígio e vivência na música popular, particularmente em São Paulo, o baixista Luiz Chaves e o baterista Rubens Barsotti, o Rubinho, uniram-se ao pianista Hamilton Godoy para constituir o Zimbo Trio, que chegou a completar trinta anos com a mesma formação, dedicando-se a um repertório coerente, mantendo fidelidade a um padrão musical que mostrou possuir público permanente e chegando inclusive a criar uma escola (o Clam) para a formação musical e aperfeiçoamento de instrumentistas.

Luiz Chaves, nascido e criado em Belém do Pará, acredita que, antes do surgimento da Bossa Nova, já existia um movimento nacional que buscava explorar o bom gosto dentro da música brasileira. Filho de um violinista e uma pianista, Luiz lembra que sua mãe, apesar da formação erudita, mandava buscar álbuns de Fats Waller nos Estados Unidos. “Por minha casa passaram os maiores nomes da música do Rio de Janeiro”, conta. Ele cita, entre outros, Orlando Silva, Os Anjos do Inferno e Lúcio Alves. Enquanto as estrelas ensaiavam dentro de sua casa, as pessoas se acotovelavam do lado de fora para ouvir. “E nós íamos aprendendo...”, confessa.

O compositor Custódio Mesquita foi, durante algum tempo, diretor artístico da PRC5, Radioclube do Pará. Aos treze anos, Luiz Chaves fundou com o irmão Sebastião, conhecido também como o contrabaixista Sabá - outro nome indispensável em qualquer relação de músicos importantes na história da Bossa Nova - o conjunto Gaviões do Samba, inspirado nos Cariocas. Mais tarde, na época do auge da Bossa Nova, Sabá formou com o percussionista Toninho Pinheiro e com o pianista Cido Bianchi o Jongo Trio, de grande êxito inclusive pelos arranjos vocais, posteriormente sucedido pelo Som Três, então com César Mariano ao piano.

O baterista do Zimbo, Rubinho, também cresceu ouvindo música norte-americana, fez parte de vários conjuntos e tocou em inúmeras casas noturnas. Participava intensamente de gravações, na época em que surgiu a Bossa Nova — e ele cita, como exemplo, os discos de Maysa e de Agostinho dos Santos —, graças às quais sustentava o curso de Direito na Universidade Mackenzie. Segundo Rubinho, a Bossa Nova surgiu no Rio, “mas quando chegou a São Paulo, todo mundo estava pronto para participar e participou. Foi tudo muito natural e espontâneo”.

Quanto ao pianista do trio, Hamilton, músico de formação preponderantemente erudita, conta que ele e seus irmãos, nascidos e criados em Bauru, no interior de São Paulo, ouviam muita música em casa, já que seu pai adorava orquestras americanas, como as de Glenn Milier e Tommy Dorsey. Dos artistas brasileiros preferiam como exemplo Carlos Galhardo, Orlando Silva, Dick Farney e Agostinho dos Santos, O programa da Rádio Eldorado Um Piano ao Cair da Tarde era algo obrigatório para eles. Seus irmãos Adylson e Hamilson vêm desenvolvendo suas carreiras profissionais, inclusive como pianistas, confirmando e deixando claras as influências reveladas por Hamilton.

No que se refere à Bossa Nova propriamente dita. o pianista do Zimbo comenta que “a gente estava preparado para ouvir um tipo de música e, quando o disco do João Gilberto apareceu lá em casa, causou reações diferentes. Meu pai se irritava com aquilo, enquanto a gente adorava”.

Paulinho Nogueira foi um dos primeiros a despontar. Em São Paulo desde 1952, pensava ser desenhista publicitário, até que descobriu seu verdadeiro caminho e foi trabalhar como violonista na boate ltapoã. Segundo diz, “a gente estava sempre tocando nas casas noturnas, e só curtia mesmo a música quando acabava a função; aí é que a coisa esquentava...”. Professor de violão, não apenas se apresentava nos espetáculos do circuito universitário, como fazia “escada” para os artistas mais jovens, quando necessário.

Theo de Barros começou tocando jazz na boate de jovem-guarda Lancaster, na Rua Augusta, alternando com um conjunto de rock. Tocou em várias casas noturnas, como Cambridge, Baiúca, João Sebastião e Ela, Cravo e Canela, Participou do grupo, das reuniões e das noites de Bossa Nova, e dirigiu Historinha, já na fase do Teatro Paramount, tendo preparado, para este espetáculo, arranjos que incluíam trompetes e violinos para o conjunto de Erlon Chaves.

O cantor, violonista e compositor Sérgio Augusto estudava Química Industrial e trabalhava na noite para ajudar a custear os estudos. Freqüentador da turma carioca da qual nasceu a Bossa Nova, seu estilo de tocar violão chamava a atenção, assim como suas primeiras composições, dentre as quais Barquinho Diferente, gravada por Claudete Soares, Milton Banana Trio, Zimbo e outros. Fez parte do conjunto de Pedrinho Mattar quando este se apresentava com Claudete, no Ela Cravo e Canela e no João Sebastião Bar, tendo inclusive ali substituído Vera Brasil, Sérgio Augusto participava do circuito universitário e se apresentava no Le Barbare e no Estão Voltando as Flores.

Segundo seu depoimento, “inesquecíveis eram os fins de noite na boate Bon Soir, quando todos os músicos deixavam seu trabalho e iam ouvir o violão e as canções de Walter Santos, ídolo de todos nós naquela época, sob cujo samba o sol nascia lá para os lados da antiga Praça Roosevelt”.

Walter Santos, também baiano e também de Juazeiro, fez parte do back vocal do disco pioneiro de Elizeth Cardoso, ao lado de Tom Jobim e de João Gilberto, e foi presença do maior destaque nos primeiros anos da Bossa Nova em São Paulo, assim como outro conterrâneo, Geraldo Cunha, igualmente violonista, compositor e cantor, que participou do show O Fino da Bossa, e chamava público em inúmeras casas noturnas entre as quais o Le Barbare, o Jogral e, anos depois, o III Whisky.

Entre tantos outros, Edgard Gianullo sempre teve pendores para os arranjos vocais, tendo liderado vários conjuntos com clara influência do jazz e da Bossa Nova, o mais recente dos quais o Quatro por Quatro. Participou da orquestra de Simonetti e acompanhou inúmeros cantores da moderna música popular brasileira. Apaixonado por música desde os catorze anos, em particular dos Anjos do Inferno, a maior diversão de sua turma era fazer novos arranjos para músicas antigas. “Aparecia até a Carmen, de Bizet, em ritmo de Bossa Nova”, comenta, citando inclusive que Vinícius e Tom costumavam freqüentar as reuniões desse grupo em São Paulo.

Mesmo polarizada pela velha Praça Roosevelt, a Bossa Nova paulista a partir de 1961 passou a ter fora dela, não longe, porém em duas direções opostas, as casas noturnas mais marcantes em matéria de música popular brasileira, e de Bossa Nova em particular.

Para os lados da Vila Buarque, próximo ao Mackenzie e à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU: uma série de bares como o Le Barbare, o Manolo, o Ela, Cravo e Canela e particularmente o João Sebastião Bar, na Major Sertório, dirigido por Paulo Cotrim. Na Avenida Nove de Julho, não longe do Anhangabaú, o bar do Hotel Claridge, que depois virou Cambridge para aproveitar o maior número de letras quando teve de mudar o nome.

Cotrim havia sido diretor artístico da boate Cave, numa época, entre 1959 e 1960, com música de qualidade e shows de bolso que tiveram grande sucesso. Era ligado aos movimentos de juventude católica e dono de uma pensão de estudantes na Rua Sabará, que era ponto de encontro de jovens lideranças intelectuais e artísticas. Anos mais tarde transformou-se em prestigiado cronista de assuntos gastronômicos. Sua proposta era a criação de um novo espaço, especialmente projetado para ser uma casa de música, de shows e de reunião, objetivo que alcançou, tornando-a no mínimo o local mais badalado da cidade.

Foram suas atrações, entre muitas outras, Claudete Soares acompanhada por Pedrinho Mattar, com Sérgio Augusto (violão), Azeitona (baixo) e Hamilton (bateria); o Sambalanço Trio, do pianista César Camargo Mariano, Kleiber (baixo) e Airto Moreira (bateria) Pery Ribeiro; o Sexteto Brasileiro de Bossa Nova, liderado por Theo de Barros; e o Quarteto de Eli Arcoverde. Foi lá, por exemplo, a primeira apresentação pública de Gilberto Gil, então funcionário em São Paulo da Cia. Gessy-Lever.

Entre os locais eleitos pela Bossa Nova, o João Sebastião Bar era, segundo a cantora Ana Lúcia, “uma Ipanema para os paulistas. Lá, na mesma noite, podia-se encontrar Lennie Date, Tônia Carrero, Tarcísio Meira e Glória Menezes ou a Condessa Pereira Carneiro”. Segundo ela, a maior atração da casa eram as “canjas”, além dos dois ou três conjuntos contratados e uns quatro cantores. “O Jô Soares, por exemplo, sempre aparecia para tocar bongô ..“.

Já a história do Cambridge relataria principalmente as diferenças na composição dos conjuntos que ali se apresentavam, num clima mais calmo, para um público mais voltado à qualidade musical. Entre outros, deve-se lembrar o conjunto de Manfredo Fest, com Matias (baixo) e Heitor (bateria); o de Pedrinho Mattar, com Azeitona (baixo), Toninho Pinheiro (bateria) e Papudinho (pistom) acompanhando Claudete, e o da própria, acompanhada por Walter Wanderley, no quarteto vocal que formaram com a participação de Alaíde Costa.

Logo a Bossa Nova começou a ser exportada. A Odeon lançou João Gilberto nos Estados Unidos através de uma montagem de gravações intitulada BraziI’s Brilliant. Em 1961, houve no Teatro Municipal do Rio um espetáculo de jazz com os músicos americanos Coleman Hawkins, Curfis Fuiler, Zoot Sims e Herbie Mann, entre outros. Fascinados com as possibilidades infinitas de improviso da Bossa Nova, eles voltaram para os Estados Unidos com algumas músicas para serem gravadas.

O trompetista Alberto Castilho lembra que, em 1961, foi um dos músicos convidados a tocar no primeiro festival de jazz da América Latina, em Punta del Este, no Uruguai. O conjunto era formado por ele, Juarez Araújo (sax tenor), Paulinho Ferreira (sax barítono), Bill Horne (trompete) Pedro Paulo (contrabaixo), Sérgio Mendes (piano), Tião Neto (contrabaixo) e Oswaldinho Oliveira Castro (bateria). Participavam Argentina, Brasil, Uruguai e Chile. “Até o conjunto argentino já tocava Bossa Nova”, lembra Alberto, contando também que durante as apresentações do festival só se tocava jazz, mas nas jam sessions que aconteciam depois, nos bares de Punta del Este, a Bossa Nova era o grande acontecimento.

(Continue lendo em Bossa Nova, a história - Parte 4)

Fonte: Revista Caras - Edição Especial de Julho de 1996.