sábado, fevereiro 10, 2007

Elton Medeiros

O compositor – e parceiro – Cartola costumava dizer brincando que a letra "ene" sobrava em seu nome (Angenor) e faltava no de Elton (na realidade Elto Antônio de Medeiros, nascido na cidade do Rio de Janeiro em 22 de julho de 1930).

Desde muito cedo a música teve influência em sua vida, pois seu pai era muito ligado aos ranchos e seu irmão Aquiles, compositor, o encaminhou na carreira de criador musical. Aliás, é saborosa a história que Elton conta no programa, como fez seu primeiro samba aos oito anos e seu irmão lhe explicou como era a estrutura de uma composição.

Nascido no bairro da Glória, logo se mudou para o subúrbio carioca, onde iniciou seus estudos e paralelamente o gosto musical. Fez parte de banda, tocando bombardino e saxofone. Posteriormente passou para o trombone, com o qual se destacou tocando nas gafieiras, tão em voga na época. Mas seu forte mesmo eram os instrumentos de ritmo, tornando-se talvez o mais exímio executante de caixa-de-fósforos que se conhece.

Na gravação de um programa para a TV Cultura, em que se apresentaria como cantor, instado pelo produtor Fernando Faro a fazer ritmo, improvisou um instrumento de percussão com uma lata de tinta vazia, abandonada em um canto do estúdio e ninguém percebeu a "invenção".

Como compositor é tido como um dos melhores representantes da escola melodista de Cartola, de quem foi parceiro e com quem criou sambas notáveis. Já era bastante conhecido entre os sambistas quando estreou profissionalmente no musical Rosa de Ouro, criado e produzido pelo poeta-compositor Hermínio Bello de Carvalho.

O espetáculo, que ficou quase um ano em cartaz no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro – e andou pelo Brasil –, resgatou a cantora Araci Cortes e lançou nomes como os de Elton, Clementina de Jesus e Paulinho da Viola. Sem mencionar as presenças notáveis do mangueirense Nelson Sargento, do portelense Jair do Cavaquinho e do salgueirense Nescarzinho, o Anescar, criador do antológico samba-enredo Chica da Silva.

Modestamente Elton se diz "parceiro dos famosos" (Cartola, Paulinho da Viola, Hermínio Bello, Zé Keti, Paulo César Pinheiro, Ana Terra, Cacaso, Otávio de Moraes, Joacyr Santana, Regina Werneck, entre outros), quando na realidade são os tais "famosos" que não prescindem de seu grande talento, principalmente Paulinho da Viola, desde sempre seu mais habitual parceiro.

Internacional – já se apresentou na África, em Portugal, na Suécia –, seu samba nunca deixou de ter o acentuado sabor carioca, que é sua marca tradicional, além da beleza das melodias (e muitas vezes das letras). É o principal fator de uma apresentação que faz parte da história da música popular brasileira.

Seu samba-enredo – feito em 1954 para sua Escola de Samba Aprendizes de Lucas –, o Exaltação a São Paulo, foi apresentado pelo cantor Jorge Goulart no programa Um Milhão de Melodias, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Arranjo do maestro Radamés Gnattali, para violino e caixa-de-fósforos, esta naturalmente solada por ele.

Elton Medeiros é seguramente um dos mais talentosos compositores daquilo que se convencionou chamar de "música brasileira de raiz".

Arley Pereira - MPB ESPECIAL 8/1/1975

Viagem


Viagem (1970) - Taiguara - Intérprete: Taiguara

LP Taiguara - Viagem / Título da música: Viagem / Taiguara (Compositor) / Taiguara (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1970 / Nº Álbum: MOFB 3645 / Lado A / Faixa 5 / Gênero musical: Canção.


Tom: E

Intro:  (  G   Bm/F#   E4/7  ) 

E Abm/Eb    C#m                        Eb7      Bm/D
Vai    abandona a morte em vida em que hoje estás
C#4/7                       C#7       Am/C
Ao lugar onde essa angustia se desfaz
B4/7                 D7         G
E o veneno e a solidão mudam de cor
Bm/F#   E4/7
Vai indo amor
E    Abm/Eb    C#m                  Eb7           Bm/D
Vai        recupera a paz perdida e as ilusões,
C#4/7           C#7           Am/C
não espera vir a vida as tuas mãos
B4/7              D7           G
Faz em fera a flor ferida e vai lutar
Bm/F#   E4/7
Pro amor voltar
Am  Am/G                C/D                D7/9    F6/11+
Vai       faz de um corpo de mulher estrada e sol
E4/7    E7     A7                D7
Te faz aman...te    Faz meu peito errante
G4                          G    B4/7
Acreditar que amanheceu
Am  Am/G             C/D               D7/9       F6/11+
Vai       corpo inteiro mergulhar no teu amor
E7/4    E7   A7           C/D       D7
Nesse momen...to   vai ser teu momento
G4                   G     B4/7
O mundo inteiro vai ser teu, teu,  teu
E       Abm/Eb
Vai,      vai...

Universo no teu corpo


Universo No Teu Corpo (1970) - Taiguara - Intérprete: Taiguara

LP Viagem / Título da música: Universo No Teu Corpo / Taiguara (Compositor) / Taiguara (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1970 / Nº Álbum: MOFB 3645 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Canção.


Introdução: G   B4/7

     E    B/D#     Bm           E7              A     A7M
Eu desisto    não existe essa manhã que eu perseguia 
Am7/G         D7(9)           E   D#m7(b5) G#7
Um lugar que me dê trégua ou me sorria   
C#m7          F#7         D   D7M   B4 7   B7
Uma gente que não viva só prá si        

E     B/D#       Bm         E7          A     A7M
Só encontro    gente amarga mergulhada no passado
Am7        D7(9)           E    D#m7(b5) G#7
Procurando repartir seu mundo errado   
C#m7      F#7             D(add9)/E
Nessa vida sem amor que eu aprendi

A7M
Por uns velhos vãos motivos
Am7              D7(9)
Somos cegos e cativos
G7M                            B4 7
No deserto do universo sem amor
A7M
E é por isso que eu preciso
Am7             D7(9)
De você como eu preciso
G7M                               B4 7 B7
Não me deixe um só minuto sem amor

E   B/D#      Bm         E7             A      A7M
Vem comigo    meu pedaço de universo é no teu corpo
Am7/G        D7(9)        E     D#m7(b5) G#7
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo  
C#m7              F#7         D    D7M  B4/7 B7
E em teus braços se unem em versos a canção          

E   B/D#
Em que eu digo
Bm             E7             A    A7M
que estou morto prá esse triste mundo antigo
Am7/G        D7(9)     G      G7M
Que meu porto meu destino meu abrigo
C             D7             G    G7M
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
C             D7             G    G7M
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
C             D7             G      G7M
São teu corpo amante amigo em minhas mãos

Taiguara


Neto de maestro e filho do bandoneonista Ubirajara Silva, Taiguara Chalar da Silva (1945- 1996) nasceu em Montevidéu, no Uruguai e a partir dos 4 anos radicou-se no Rio. Mas começou a carreira nos shows do colégio Mackenzie e no teatro de Arena, ambos em São Paulo (onde também debutava Chico Buarque, da vizinha FAU) em 1964.


Engajado na ala paulistana da bossa nova, acantonada no João Sebastião Bar, de Paulo Cotrim, ele atuou ao lado do Sambalanço Trio de César Camargo Mariano e Airto Moreira e estreou em LP aos 19 anos, com arranjos de Luis Chaves, baixista do Zimbo Trio. "Senti como orquestrador que esse jovem tinha na voz um verdadeiro instrumento", elogiou Luis Eça, do Tamba Trio, na contracapa.

Mas a voz melodiosa com um vibrato metálico acabou levando a outros rumos o compositor, que estreou no balançado Samba de Copo na Mão. Depois de disputar vários festivais também com músicas alheias (Modinha, de Sérgio Bittencourt, Não se morre de mal de amor, de Reginaldo Bessa) estourou a partir de 1970 com baladas de próprio punho entre a sensualidade e a jovem rebeldia como Hoje, "Universo do teu corpo", Viagem, Geração 70, Teu sonho não acabou, Que as crianças cantem livres.

A permissividade poética em sintonia com a era do desbunde atraiu a atenção da Censura que começou a vetar em massa suas letras, o que o levou a um auto-exílio londrino. Mas a perseguição do regime não o impediu de gravar discos de alta densidade instrumental como "Imyra,Tayra, Ipy, Taiguara", em 1976 (com Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Wagner Tiso, Jaquinho Morelembaum) e mesmo os anteriores "Taiguara, Piano e Viola" (1972) e "Carne e Osso" (1971).

Nos 80, tornou-se discípulo político do líder comunista Luis Carlos Prestes para quem compôs O Cavaleiro da Esperança. Empreendeu uma volta às origens em "Canções de amor e liberdade" (1983), misturando o bandoneon do pai à harpa paraguaia e ao chamamé fronteiriço. E no CD final, "Brasil Afri" (1994) rebuscou-se em Menino da Silva e África Mãe.


Tárik de Souza – ENSAIO 19/8/1994