terça-feira, julho 31, 2012

Cacilda Borges Barbosa

Cacilda em 1932
Cacilda Borges Barbosa, maestrina, compositora, pianista e professora de música erudita e, no início de sua carreira, também de música popular, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 18 de maio de 1914, e faleceu na mesma cidade em 6 de agosto de 2010. Aluna de composição de Antônio Francisco Braga na Escola Nacional de Música, Cacilda pertenceu à geração de autores que estenderam sua produção entre 1940 e o início do século XXI.

Tendo integrado a equipe de músicos que participaram dos projetos educacionais de Heitor Villa-Lobos desde 1930, Cacilda chegou a dirigir o Serviço de Música do Rio de Janeiro, que Villa havia fundado, e foi a primeira diretora do atual Instituto Villa-Lobos do Estado do Rio de Janeiro.

Na década de 1950 foi professora de música de câmara da Escola Nacional de Música e, até os anos 1990 lecionou composição no Conservatório Brasileiro de Música, ritmoplastia na Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e deu aulas em muitas outras escolas de música de todo Brasil.

Pioneira na utilização de música eletrônica no Brasil, sua obra inclui séries de Estudos Brasileiros para canto, para piano e acordeão, balés, peças orquestrais e música de câmara, assim como dezenas de fugas instrumentais. A coleção de dioramas, peças de cunho didático para piano, tem ampla divulgação.

Provavelmente sua peça mais conhecida é o coral Procissão da Chuva, com letra de Wilson Rodrigues, que integra o repertório de grande número de conjuntos vocais brasileiros. Seu estilo tem as peculiaridades da tradição carioca, com muita utilização do contraponto, e presença da melódica do chorinho.

Obras

Chibraseando, Cota zero, Lamentações onomatopaicas, Missa em fugas, Segunda missa brasileira, Uirapiranga, entre outras.

Fonte: Wikipédia.

K. Peta, marchista, sambista e revisteiro

Rimus Prazeres, o K. Peta
Embora as bonitas marchas que ele fez para diversos ranchos fossem assinadas como sendo de Rimus Prazeres (síntese de seu extenso nome: Primitivo Rimus Rodrigues Prazeres), também era do K. Peta a autoria. Simplesmente porque os dois eram a mesma pessoa dividindo-se na atuação carnavalesca como letrista das canções entoadas pelos grupos músico-alegóricos e como cronista nas colunas da imprensa. Aos versos condicionados às vibrantes melodias compostas pelos seus parceiros, apunha o nome civil (na abreviatura que usava). Na irreverência satírica de seus escritos no jornal mascarava-se com o pseudônimo.

Assim o K. Peta, homôfono do temível ‘chefão’ do Inferno, mas dele se diferenciando bastante, a começar pela grafia exótica do cognome, procurava separar o poeta Rimus Prazeres de suas ‘fofocas’ jornalísticas. Não sendo, porém, só o gato que ao se esconder deixa o rabo de fora, o endiabrado K. Peta acabou identificado como irmão siamês do menestrel Prazeres cujo estro serviu a um punhado de ranchos. Foi, inegavelmente, usando-se o neologismo trocadilhesco criado por Orestes Barbosa, um ‘marchista’ dos mais disputados e expressivos.

Cronista da série K

Ao tempo em que a imprensa podia prodigalizar farto espaço ao Carnaval mantendo em seu corpo redatorial um ou mesmo dois jornalistas especializados no assunto, Rimus Prazeres foi um deles. Começou adotando pseudônimo da série K na qual avultavam K. Noa, K. Rapeta, K. Dete, K. K. Reco, K. Ico e outros. Com esse apelido assinou diversas crônicas no Diário Carioca, em A Pátria e, principalmente, no semanário O Momo, do qual, com K. Zinho (Oscar Martins) foi um dos diretores. Maliciosos, irônicos, dosados de um humorismo ferino, seus escritos causticavam e faziam rir.

Jornalista ‘de forno e fogão’, capaz de atender bem e com desembaraço a qualquer dos setores do compósito (bonito termo, não?) de um matutino ou vespertino, não se ateve apenas ao carnavalesco. Logo que o assunto referente ao Carnaval começou a ‘mixar’ e ter apenas dois ou três meses de atenção na imprensa, passou ao noticioso generalizado. Conseguiu, então, em 1939, ser admitido como redator da Agência Nacional onde trabalhou até poucos dias antes de sua morte ocorrida em 1 5 de fevereiro de 1957 deixando consternados os que com ele conviveram.

Prazeres ‘marchista’

Filho do carnavalesco Simeão integrado no Flor do Abacate, do Catete, foi levado pelo pai pra o ‘galho’ (nome que tinha a sede da agremiação) e já em 1921 ali recebia missão de relevo. Vitorioso o rancho na mi-carême — realizada em março por iniciativa do Jornal do Brasil — fez parte da comissão que foi receber o troféu. Depois, em 1928, quando já havia lançado, em 1926, com Laudelino Silva, a marcha Crepúsculo e luar, para o Carnaval desse ano, tinha, com Antenor Esteves, o cargo de mestre-de-canto. Davam-lhe incumbência de destaque e incentivavam-no a novas composições que ele próprio as ensaiava e alcançavam o êxito desejado nos desfiles do rancho em cotejo com os coirmãos.

Sem se obrigar a uma exclusividade e solicitado por outros ranchos, Rimus Prazeres já em 1930 atendia ao pedido do Cartolinhas Misteriosas, da Penha, e fazia para esse rancho a marcha Homenagem à imprensa. E mostrando fertilidade, no mesmo ano colaborava no Carnaval do Miséria de Fome, da rua de Santa Luzia, com a marcha Nossa glória, e no do Arrepiados de Laranjeiras, com a intitulada Ideal vencido. Sempre requestado, em 1932, a pedido do presidente Antonio Bernardo, estava no bloco Tomara que Chova, de Botafogo, como seu diretor-técnico, mas continuava versejando novas composições. Pôde, desse modo, escrever para o Recreio das Flores, da Saúde, em 1936, llusão de artista e, após um hiato de doze anos, Nova capital do Brasil, cantada pelo União dos Caçadores quando de sua exibição em 1948.

Também sambista e revisteiro

Jornalista de profissão e excelente poeta, fazendo versos pomposos, alegóricos, bem ao gosto dos ranchos que os queriam com vocábulos preciosos, com palavras difíceis (rosicler, lirial, melopéias etc.). Prazeres foi um ‘marchista’ dos mais brilhantes. Seguiu a mesma linha dos expoentes: Antenor de Oliveira, Napoleão de Oliveira, Pedro Paulo, Bonfiglio de Oliveira, Álvaro Sandim, Sady Bandeira e poucos mais de uma lista no muito numerosa. Mas embora seu forte fosse a marcha-de-rancho, deixou também na sua bagagem litero-músico-carnavalesca, com autoria consignada a K. Peta e Rimus Prazeres, alguns sambas e revistas teatrais. No grupo daqueles (os sambas) destaca-se o É daqui! com o qual o Flor do Abacate glosava os seus rivais Caprichosos da Estopa, Lírio do Amor etc. No destas (as revistas) Chocolate com torradas, Média só, e canja!, Disparates e mais algumas sempre em parceria com Jogo Luiz Pereira (Patativa).

Desse modo, longe de sua autêntica biografia, recordou-se um antigo carnavalesco que, na imprensa e como participante dos bonitos ranchos de outrora, muito contribuiu para os festejos de Momo na terra carioca. Autor de primorosas marchas-de-rancho que, infelizmente, como as de outros compositores especificamente dedicados a esse gênero de música popular, não tiveram quem as recolhesse para a posteridade nem merecia a rememoração ora feita, Primitivo Rimus Rodrigues Prazeres ou Rimus Prazeres na abreviatura que usava, o cronista K. Peta foi sem favor, como está no título, um grande ‘marchista’ a serviço dos muitos ranchos, dando-lhes as bonitas canções entoadas às suas passeatas.


(O Jornal, 11/04/65)

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Fonte: Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007. 326p. :il.