terça-feira, janeiro 22, 2013

Madelou Assis

Madelou Assis (Maria de Lourdes de Assis), cantora, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 1915, e faleceu na mesma cidade em 1956. Integrante da sociedade carioca, esteve em atividade com relativo sucesso no início da década de 30. Em 1932, com apenas 16 anos, iniciou a carreira, atuando em um cinema como apresentadora de um espetáculo no qual se apresentaram alguns artistas de rádio da época.

Pouco depois atuou em um espetáculo semelhante em um cinema rival, o que resultou em um problema com os empresários que a levaram para a primeira apresentação.

Esta confusão foi parar nos jornais, o que fez com que um juiz proibisse a cantora de realizar apresentações em público, uma vez que era menor de idade. De fato Madelou não tinha pedido a permissão dos pais para se apresentar nos tais espetáculos, tendo um procurador assinado os contratos. No entanto a cantora conseguiu continuar se apresentando e o burburinho causado pelos jornais atraiu a atenção do público e foi suficiente para que os espetáculos seguintes fossem enormes sucessos de público. No mesmo ano começou a se apresentar na Rádio Mayrink Veiga, contando com o apoio de Carmen Miranda, que embora ainda iniciante, já era uma artista famosa, e permaneceu na Mayrink por cerca de dois anos.

Ainda em 1932 gravou pela gravadora Colúmbia o primeiro disco, com a marcha Não lhe faço mais carinhos e o samba Não foi despreso (ambos de de J. Cabral e Dann Mallio Carneiro). No mesmo ano foi destacada pela revista Fon-Fon, que se refere a ela como "figurinha galante da nossa alta sociedade, tem voz suavissima que aumenta o encanto de sua graça pessoal" e, em outro trecho como "Artista de fina sensibilidade, a linda patrícia vem, de há muito, enchendo de harmonia nossos salões e as nossas estações de Rádio, cantando e encantando com aquela fascinação que palpita e vibra nos seus olhos de boneca".

No ano seguinte se apresentou em São Paulo na Rádio Record, ao lado do compositor e radialista Valdo Abreu (seu futuro marido) e de uma cantora de tangos de nome Lely Morel. Passou a se apresentar frequentemente no "Explêndido Programa", apresentado por Valdo Abreu na Rádio Mayrink Veiga. Apresentou-se em diversos espetáculos de variedades, atuando ao lado de nomes como Carmen Miranda, Sílvio Caldas, Almirante, Francisco Alves, Patrício teixeira, Mário Reis, Laura Suarez, Aurora Miranda, Arnaldo Pescuma, Luiz Barbosa, Custódio Mesquita, João Petra de Barros, Noel Rosa, Irmãos Tapajós, Pixinguinha, Bando da Lua, Moreira da Silva, Aracy de Almeida, entre outros.

Em 1934 ficou em segundo lugar num concurso realizado pelo jornal A Hora para eleger o "príncipe" e a "princesa" do elenco de artistas do Rio de Janeiro. Casou-se com Valdo de Abreu neste ano, indo pouco depois acompanhando Aurora e Carmen Miranda em uma temporada na Rádio Belgrano de Buenos Aires.

Nos dois anos seguintes atuou nas Rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, em São Paulo. Em 1936 retornou ao Rio de Janeiro, se apresentando pela Rádio Cruzeiro do Sul carioca. Nesse ano se afastou da vida artística.

Durante a carreira, Madelou Assis, cujo nome artístico era grafado às vezes como "Madelú" e às vezes "de Assis", gravou apenas 5 discos, dos quais se destacam suas gravações em dueto com Francisco Alves.

Discografia

1932 - Columbia 22.154 (78 RPM)
1. Não Lhe Faço Mais Carinhos (J. Cabral / Dan Malio Carneiro)
2. Não Foi Desprezo (J. Cabral / Dan Malio Carneiro)

1932 - Columbia (78 RPM)
1. Era uma vez (Custódio Mesquita)
2. Papai Noel, felicidade (Custódio Mesquita)

1933 - Odeon 11.079 (78 RPM)
1. Brinca Coração (Benedito Lacerda) - com Francisco Alves
2. Estrela Da Manhã (Ary Barroso / Noel Rosa) - com Francisco Alves

1933 - Victor 33.689 (78 RPM)
1. Ciúme (Valdo Abreu)
2. Praia dos Beijos (Valdo Abreu)

1934 - Odeon 11.090 (78 RPM)
1. Tipo 7 (Antônio Nássara / Alberto Ribeiro) Intérprete: Francisco Alves
2. A Lua Veio Ver (Irmãos Valença / Adpt. Ary Barroso) Intérpretes: Francisco Alves e Madelou Assis.

Fonte: http://www.cantorasdobrasil.com.br/cantoras/madelou_assis.htm

Dann Mallio Carneiro

Dann Mallio Carneiro, compositor e funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1907, e faleceu na mesma cidade em 27/9/1937. Teve sua primeira composição gravada em 1930, o samba No Grajaú, Iaiá, com José Francisco de Freitas, lançado por Mário Reis na Odeon.

Em 1931, a marcha Boa roupa, com Pedro Cabral, foi registrada por Iolanda Osório na Brunswick. Em 1932, fez com Pedro Cabral o samba Eu já chorei e a valsa Falso juramento, gravadas por Jaime Vogeler na Odeon. No mesmo ano, teve três parcerias com J. Cabral gravadas na Columbia: o samba Você é o homem do meu peito na voz de Araci Cortes, e o samba Não foi desprezo e a marcha Não lhe faço mais carinhos na de Madelou de Assis.

Em 1935, a marcha Dois luares pequeninos, com Alcebiades Barcelos, foi gravado por Aurora Miranda na Odeon. No mesmo ano, Carmen Miranda gravou pela Victor a marcha Moreno, parceria com Alcebíades Barcelos. Fez com Custódio Mesquita em 1936 o samba Exaltação da favela gravado pelas Irmãs Pagãs na Odeon. No mesmo ano, a valsa Dor oculta, com Francisco Alves, foi gravada na Victor por Francisco Alves.

Embora não tenha tido uma carreira muito longa até porque, na época em que atuou poucas carreiras conseguiam esse feito, teve músicas gravadas por nomes como Francisco Alves, Mário Reis, Iolanda Osório, Jaime Vogeler, Aracy Cortes, Madelou de Assis, Aurora Miranda, Carmen Miranda e Irmãs Pagãs, com músicas lançadas nas gravadoras Brunswick, Odeon, Columbia e Victor.

Compôs marchas, sambas e valsas e foi parceiro de nomes como Alcebíades Barcelos e Custódio Mesquita.

Faleceu em 27/09/1937 no Hospital Nacional de Alienados aos 30 anos de idade e solteiro, filho de Américo Vespucio Mallio Carneiro e Alvarina Mallio Carneiro. Causa mortis: "neso seffiles malaria caqueixa".

Obras

Boa roupa (c/ Pedro Cabral), Dois luares pequeninos (c/ Alcebíades Barcelos), Dor oculta (c/ Francisco Alves), Eu já chorei (com Pedro Cabral), Exaltação da favela (com Custódio Mesquita), Falso juramento (com Pedro Cabral), Não foi desprezo (c/ J. Cabral), Não lhe faço mais carinhos (c/ J. Cabral), No Grajaú, Iaiá (c/ J. Francisco de Freitas), Você é o homem do meu peito (c/ J. Cabral).

Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; Orkut.

Rio de Janeiro em versos de samba

Eu nasci em Catumbi / Em Catumbi, em Catumbi / Mas sou filho de Oxalá / Oxalá, Oxalá

Esta quadrinha gostosa é de um samba que J. B. Silva apresentou em 1924, chamado Cabeça de promessa. Dá a mesma medida exata do que tem feito os sambistas cariocas mais autênticos no canto de louvor a sua cidade, no geral, e no seu bairro, de modo especial. Loas e exaltações que tem o seu tanto – e natural – de vaidade, mas de modo aberto, sem o caráter agressivo de outros povos do Brasil e/ou do estrangeiro.

Certo, o Rio tem sido cantado em bloco, como cidade do amor e ventura / que tem mais doçura. Cânticos que têm chegado até a declaração de amor: Rio de Janeiro / gosto de você… Mas é na poesia do bairro que o letrista tem-se excedido, mais como um camelô das virtudes dos seus vizinhos do que, propriamente raciocinando. Grita as vantagens dos seus bairros por gritar, porque lhe faz bem assim proceder. Ou em resposta, responso coral quase, às proclamações de rivais – responso que toma o caráter de peça em detrimento dos rivais.

Assim, José Francisco de Freitas e D. M. Carneiro não faziam, em 1930, mais do que responder a Almirante e Candoca da Anunciação, quando escreveram: No Grajaú, Iaiá / No Grajaú. O seu bairro mais venturoso e mais aventuroso, mesmo, do que a mais longínqua e desértica Pavuna da gente reúna. Afinal, para a Pavuna o convite era:

Vem pra batucada
Que de samba na Pavuna
tem doutor


Ao otimismo malandro dos pavunenses (e isto não quer dizer que os autores do samba, bairrista fossem, necessariamente, seus habitantes), opunham o burguesismo do Grajaú, já então, talvez mais do que hoje, bairro metido a besta. O convite para ida à Pavuna não parecia sensibilizar ao autor da Dondoca e da Zizinha.

As origens das canções de exaltação aos bairros se perdem nos anos imperiais, talvez na própria e minguada cidade colonial. Neste século, entretanto, tais canções se tornaram mais constantes, acompanhando o progresso e o crescimento horizontal e vertical da metrópole. Às vezes, é uma fuga ao bulício do centro comercial o que leva um Hermes Fontes e um Freire Júnior a juntos compor uma coisa tão linda como aquela que declara: Paquetá é céu profundo / Que começa neste mundo / E não sabe onde acabar. É preciso cantar, cantar sempre – como diz a inimitável Nara Leão – e Paquetá era o recanto para a fuga às canseiras do crescente e barulhento Rio de Janeiro. Como um quarto de século depois seria (apenas idealmente) aquele samba bossa-novista primitivo que idolatrava Copacaba / Princesinha do mar…

E a oposição Zona Norte-Zona Sul? Já era tão forte no tempo de Noel Rosa que este antepunha à areia dos piratas de Ary Barroso, das moreninhas sapecas de João de Barro e de  Lamartine Babo, uma palmeira de mangue: e o Mangue – que o montanhista Idalicio Manuel de Oliveira Filho sempre soube escalar como ninguém, sendo o dono do assunto nos últimos trinta anos – convenhamos, o Mangue era, por aquela época, puro fogaréu.

O Mangue e toda a Zona Norte. Em 1930, por exemplo, Teobaldo M. Gama lançava na voz de Sílvio Caldas Um Samba no Rocha, descrevendo as vantagens dessa estação da central. Não esqueçamos que

A primeira escola de samba
Nasceu no Estácio de Sá

Aliás, mestre Idalício – bem o sabe o Cony, o Jotaefegê e outros bambas – é cidadão nativo e com muita honra do Estácio. Perto do Estácio, a grande zona do samba, o berço e talvez o túmulo – se o simonal e outros comprimidos favoráveis à dor de cabeça resolverem se abancar por ali. Pois o Rio inteiro cantou quase chorando, já em 1942:

Vão acabar com a praça Onze
Não vai haver mais
Escola de samba, não vai!

Não resta dúvida que o grande samba do Grande Otelo fez história: evitou que a praça Onze se transformasse em simples trecho da avenida Presidente Vargas, conservando um pouco que fosse, das suas tradições. Contudo, amigos da Zona Norte existe a Vila, imortalizada por Noel e Vadico, a Vila Isabel heróica:

Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba


Idalício não nasceu na Vila, mas sambista mais autêntico não existe – e por isso tem sido visto muitas vezes passeando pela praça Barão de Drummond. Não admira, a Vila, do ponto de vista do samba, atrai, prende, escraviza, mesmo considerando os outros bairros: Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira / Osvaldo Cruz e Matriz…

Mas a Zona Sul – ao contrário do que podem pensar os adventícios, os neófitos e os beócios reunidos – não foi descoberta pela brotoeja bossa-novista. Muito antes, já em 1936, Carmem Miranda e Sílvio Caldas entoavam um sambinha gostoso que dizia:

Quando passarmos
Lá no Leblon
Pra turma ver
Vou fazer assim

O tema do samba? Na batida tradicional, no telecoteco, um passeio de automóvel com buzina Fon-Fon – antecipando de muitos anos Il Sorpasso

No mesmo ano, Ari, mineiro de Ubá, apaixonado pela orla marítima, fazia um samba-comentário indagando:

Será você a tal Suzana
A casta Suzana
Do Posto Seis?

Porém, é evidente – e está o José Lino Grünewald, testemunha auricular dos 78 rpm, para confirmar – que a Zona Norte sempre surrou a Zona Sul em matéria de samba bairrista. Exemplo frisante é aquela marchinha de carnaval: Por um carinho teu / Minha cabrocha / Eu vou até o Irajá / Que me importa que a mula manque. Ou aquele sambinha cantando, simultaneamente, um bairro e sua estréia, minha falecida amiga Zaquia Jorge: Madureira chorou / Madureira chorou de dor. Ou aquele clássico: Vou à Penha / Vou pedir à padroeira.

Naturalmente, de vez em quando os que preferiam aparecer como geógrafos, distribuindo simpatia a vários bairros, se espalhavam. Um deles, em 1937, cantou simultaneamente o bonde e o seu itinerário (Din-Din ou Seu condutor):

O bonde Uruguai
É duzentos que vai
O bonde Tijuca
Me deixa em sinuca
E o Praça Tiradentes
Não serve pra gente

Lamartine, nos idos de 1931, na base da gozação carioca, acabou citando a comunidade que hoje se distribui na rua André Cavalcanti, e então tomava o bonde Silva Manoel, e foi além, brincando com o inglês (idioma) que se chegava (motivo de troça, como todos se lembram, de músicas de Noel e Assis Valente):

I love you
Forget sciaine
Mine Itapiru

Acima, uma prova concreta de que a Zona Norte e até a meia Zona Norte ganharam sempre da Zona Sul. Mas há um reduto invencível – e o Estácio, garante o Idalício, é centro, centríssimo! – e este reduto, já o falecido Benedito Lacerda, com sua flauta e sua inspiração, encarregou-se de proclamar o maior ao gritar que A Lapa / está voltando a ser / a Lapa!.

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Paiva. Salviano Cavalcanti de. “Rio de Janeiro em versos de samba”. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 16 de maio de 1965