domingo, janeiro 19, 2014

As Pagãs cheias de juventude e charme


"Acabaram de ouvir as Irmãs Pagãs" ... — E logo o ouvinte dotado de imaginação, que nunca esteve em visita à PRA-9, pensa uma porção de coisas. Aparecem diante dele os quadros cinematográficos das ilhas dos Mares do Sul, cheias de "pequenas" morenas vestidas com uma tanga de palha e com uma coroa de flores na cabeça. Ao longe uma música dolente de guitarras tocadas por rapazes esbeltos e de alvos dentes completa a cena que o ouvinte imaginou ...

No entanto, os que conhecem os estúdios cariocas, sabem que o quadro é outro, embora tendo pontos de contato com aquele imaginado pelo ouvinte: as "Irmãs Pagãs" também são morenas. Queimadas não pelo sol do Havaí e sim pelo de Copacabana. Não usam, é verdade, tangas de palha, mas em compensação possuem uns maiôs que em nada ficam devendo às encantadas indumentárias das habitantes de Honolulu. As coroas de flores são substituídas pelos encantadores cabelos louros das duas, que, num maravilhado "negligè", formam quase coroas naturais.

Elvira Pagã
Mas, não está completo o quadro da realidade, que difere um pouco daquele imaginado pelo ouvinte. Faltam os rapazes bonitos, de alvos dentes, tocando guitarras. A ausência deles, para as Irmãs Pagãs, seria fatal se, por felicidade, não existissem substitutos à altura.

Eles existem e tem sobre os outros grandes a grande vantagem de usar gravata e se encontrarem organizados em "conjunto". Constituem o "Regional" da PRA-9.

Na realidade as Irmãs Pagãs não diferem muito da que imaginou o ouvinte. Embora civilizadas e usando vestidos compridos, cheios de botões e golas altas, sentem as duas garotas um imenso prazer no contexto com a Natureza.



As nossas praias imensas, cheias de ondas enormes e alvas areias, exercem sobre elas grande atração. As florestas onde se entrelaçam arbustos e árvores gigantescas são, dos seus passeios, os mais queridos. Conservam na Civilização em que vivemos um pouco do primitivismo que lhe empresta o nome. São "Pagãs", e, como tal, adoram a nossa Natureza Pagã, cheia de cores variadas e bonitas, no seu esplendor maravilhoso ...

Rosina Pagã
Elvira e Rosina não são do Havaí nem tampouco cariocas. Nasceram em São Paulo, numa cidadezinha que as revoluções se encarregaram de glorificar — Itararé. Estão, porém, habituadas ao nosso clima e à nossa vida e raramente lá vão.

A PRA-9 toma-lhes todo o tempo. Cantam à noite. Ensaiam de dia. Felizmente, porém, não raro elas são vistas na Cinelândia ou em Copacabana, pois seria muito triste que os fãs de rádio não pudessem ver, continuamente, aquelas duas figurinhas que enchem de alegria o estúdio da PRA-9. Mesmo porque as Irmãs Pagãs não são hoje apenas figuras de cidade.

Vão além. São símbolos: representando, na sua graça e jovialidade amável, não só o reflexo simpático de uma juventude vigorosa e cheia de esperanças, mas ainda constituem o símbolo vivo da cidade encantadora de onde são os principais ornamentos, cidade como elas queimada pelos raios solares e sempre disposta a entoar uma melodia bonita para a satisfação do público imenso de todo o Brasil ...


Fonte: CARIOCA, de 25/7/1936 (texto atualizado).