sexta-feira, maio 04, 2018

Moacir Santos - Biografia


Moacir Santos (Moacir José dos Santos), regente, arranjador, instrumentista, professor e compositor, nasceu em Vila Bela, Pernambuco, em 8/4/1924, e faleceu em Los Angeles, Califórnia, EUA. Criado em Flores do Pajeú (PE), recebeu as primeiras noções de teoria musical do Mestre Paixão, iniciando carreira como instrumentista da banda local.


Em 1940 deixou a cidade e passou a acompanhar um circo pela região. Em seguida, passou pelas cidades de Recife (PE), Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB), onde ingressou na Força Pública da Paraíba. Pouco depois, abandonou a carreira militar e passou a trabalhar na Rádio Clube de Pernambuco.

Em 1948 foi para o Rio de Janeiro, onde começou a tocar no clube Brasil Danças. Logo entrou para a orquestra da Rádio Nacional, na qual permaneceu por 18 anos, primeiro como saxofonista e depois como maestro e arranjador. Nesse período, estudou teoria musical com o maestro Guerra-Peixe e com o professor Hans Joachim Koellreutter de quem se tornou assistente.

Na década de 1950, firmou-se como um dos principais arranjadores do Brasil. Foi professor de Paulo Moura, Baden Powell, Nara Leão, Eumir Deodato, Dom Um, Airto Moreira, entre outros.

Em 1963 realizou os arranjos do disco Vinícius de Moraes e Odete Lara. Em 1965 lançou seu primeiro disco no Brasil: Coisas.

No final dos anos de 1960, pela trilha do filme Amor no Pacífico, recebeu do Itamaraty uma passagem para os EUA Fixou residência em Pasadena, onde deu aulas e tocou até ser descoberto pelo pianista Horace Silver, quando então passou a gravar para o mercado norte-americano: The Maestro (1971), Saudade (1973) e Carnaval dos espíritos (1975), todos pela etiqueta Blue Note, além de Opus 12 nr.1, pela Discovery.

Em 1985 esteve no Brasil e, com Radamés Gnattali, foi homenageado no Free Jazz Festival. Em 1992 esteve novamente no Brasil, participando do projeto Memória Brasileira, Série Arranjadores, lançado em CD.

Entre suas principais composições destacam-se Nanã (com Mário Teles), Coisas (nr.1 a 12), e, em parceria com Vinícius de Moraes, Menino travesso, Triste de quem, Lembre-se e Se você disser que sim.

Em 2001, foi lançado o CD duplo "Ouro Negro", que resgatou obras contidas em seus discos "Coisas", "Maestro", "Saudade" e "Carnival of Spirits", apresentadas com seus arranjos originais, transcritos por Mario Adnet e Zé Nogueira.

Em 2005, foi lançado o CD "Choros & Alegria", registrando suas composições Agora eu sei, Outra coisa, Paraíso", Saudade de Jaques, Vaidoso, De Bahia ao Ceará, Excerto No. 1, Flores, Cleonix, Ricaom, Lemurianos (Pâtâla), Rota Infinito, Carrosel, Samba di Amante e Felipe, todas escritas muitos anos antes de sua fase modernista emblematizada no LP "Coisas". O disco, produzido por Mario Adnet e Zé Nogueira, contou com a participação do trompetista Wynton Marsalis. Nesse mesmo ano, foram lançados os songbooks "Cancioneiros Moacir Santos".

Em 2006, o CD "Choros e alegria" foi contemplado com o Prêmio Tim, na categoria Melhor Disco/Projeto Especial. Em julho desse ano, foi escolhido como vencedor do 26º Prêmio Shell de Música, pelo conjunto da obra, vindo a falecer no dia 6 de agosto. No dia 8 de novembro desse mesmo ano, sua viúva Cleonice Santos, e seu filho, Moacir Santos Jr., receberam das mãos do presidente Lula e do ministro Gilberto Gil a medalha da Ordem do Mérito Cultural conferida ao músico.

Em 2007, a cantora Muiza Adnet lançou o CD “As canções de Moacir Santos”, gravado no ano anterior. O compositor realizou uma participação especial no disco, que se tornaria seu último registro fonográfico.


Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998; Dicionário Cravo Albin da MPB.

Batatinha - Biografia

O samba baiano teve em Batatinha o seu maior poeta e compositor de mais de 100 canções. O gráfico aposentado Oscar da Penha, ou melhor "Batatinha", faleceu em Salvador, em 3/01//97, aos 72 anos, sem nunca ter conseguido em vida o sucesso relativo à qualidade da sua obra. Apenas teve registrado dois álbuns em toda sua trajetória artística.


Reconhecido pela crítica especializada e por nomes da MPB teve diversas composições gravadas por Maria Bethânia, Caetano Veloso, Nara Leão, Jair Rodrigues, Jamelão, Moraes Moreira, dentre outras.

Ele foi o primeiro compositor a inventar o samba-receita, notabilizado na canção O Vatapá, e o pioneiro a introduzir elementos da capoeira na canção popular nos anos 50. Seu estilo melancólico do seu samba, fez a crítica o comparar em certa parte com a ambiência lírica das composições de Noel Rosa, Cartola e Paulinho da Viola.

Batatinha fez samba de alto nível fundamentado na tradição do samba de raiz baiana. Nascido em Salvador, no dia 5/08/24, desde os 15 anos de idade, trabalhou como gráfico dos jornais Diário de Notícias e Estado da Bahia e foi funcionário público da Imprensa Oficial (hoje, Empresa Gráfica da Bahia). Casado com Marta dos Santos Penha, teve nove filhos.

Desde os 15 anos já compunha e estava envolvido com o ambiente musical da capital baiana. Começou a carreira como cantor descoberto pelo radialista da Rádio Excelsior, o pernambucano Antônio Maria de Moraes, em 44, que o colocou o apelido de Batatinha. O radialista ficou impressionado com a qualidade de sambas dele, como Olha aí, O que é que há, Iaiá no Samba, Receita de Feijoada e Doutor Cobrador. O artista foi presença constante interpretando músicas do compositor paulista Vassourinha no programa de auditório chamado Campeonato do Samba que se realizava no Cine Guarany. Antes escapou de servir a Força Expedicionário Brasileira na Segunda Guerra Mundial, graças a intervenção do amigo Odorico Tavares.

Na época, Batatinha vivia na boêmia com amigos gráficos, como Dufi Cruz que, também, era sambista. Este antes de morrer na década de 50, compôs com Batatinha o samba O Grande Rei. As maiores influências no início da carreira de Batatinha eram de Wilson Batista, Noel Rosa, Araci de Almeida e Ciro Monteiro.

Ele participou durante toda década de 50 do concurso de composição para o carnaval de Salvador promovido pela Rádio Sociedade pelo locutor Renato Mendonça. Apesar do sucesso de seus sambas para o carnaval, ele numca conseguiu ganhar nenhum conscurso. Seu primeiro samba composto foi o samba Inventor de Trabalho concebido em 1943 e só seria registrada no seu primeiro LP que dividiu com os colegas sambistas baianos Riachão e Panela. O seu primeiro samba gravado foi Jajá está com uma coroa que é um barato interpretado pelo sambista carioca Jamelão. A letra relata com um raro humor as histórias de um malandro chamado Jajá da Gamboa que se relacionou com uma coroa rica da sociedade soteropolitana e arrancou toda sua grana e até sua dentadura de ouro.

Samba com pionerismo

Seu pionerismo remonta até a primeira incursão da capoeira na música brasileira que ele fez com o grupo de Cancioneiros do Norte através da Rádio Cultura de Salvador. Em 1951, ele compôs Samba e Capoeira e que foi executada em 1954. A proposta estética de misturar as melodias das músicas da dança afro-baiana num formato de cancioneiro popular ganhou força com outros nomes da música brasileira, como Clodoaldo Brito e Baden Powell e Vinícius de Moraes. Por conta dessa iniciativa teve seu nome incluído no trabalho sobre a capoeira etnógrafo Valderloir Rego.

Em 1960, ele perdeu com uma das suas mais refinadas composições chamada Diplomacia, cantado por Humberto Reis. O samba entrou na trilha sonora do primeiro filme de Gláuber Rocha, Barravento. A letra confessional do samba na época intitulada de Tormento refletia o estado de espírito de Batatinha na busca pelo reconhecimento: "...Luto por um pouco de conforto/Tenho o corpo quase morto/Não acerto nem pensar/ Mesmo com tanta agonia/ ainda posso cantar// Meu desespero ninguém vê/ sou diplomado em matéria de sofrer/ Falsa alegria, sorriso de fingimento/ Alguém tem culpa desse meu padecimento".

Pautado por uma melancolia atípica para um baiano pode ser ilustrada no samba Direito de Sambar. A letra revela a nuance de um compositor a expor sua face sensível em plena avenida de carnaval: "É proibido sonhar/ Então me deixe o direito de sambar/ ... Já faz dois anos/ que não saio na escola/ e saudade me devora/ quando vejo a turma passar".

Nesse mesmo ano, Batatinha vira sucesso nacional como compositor depois da gravação de Jamelão que gravou Javá da Gamboa. Esse fato chama a atenção dso intérpretes para o talentoso compositor negro baiano. Maria Bethânia seria o primeiro grande nome da MPB a lhe dar vez, gravando, em 64, os sambas Diplomacia, Toada da Saudade, Imitação e a Hora da Razão nos shows do Teatro Opinião e no show do álbum Rosa dos Ventos. Depois, ela gravaria ainda a marcha A História do Circo.

Em 66, o sambista baiano Ederaldo Gentil o convida para musicar a peça teatral Pedro Mico de Antônio Callado. Ele compõe o samba Espera que foi gravado pela cantora maranhense Alcione. Ainda participa, em 67, de uma produção de um vídeo-documentário da tv italiana estatal RAI sobre o samba brasileiro.

Em 1973, aos 49 anos, finalmente, por iniciativa de Paulo Lima e da gravadora Philips Fontana Special lança o disco Samba da Bahia com direção de Edil Pacheco e com a participação de músicos de Salvador, como José Menezes (cavaquinho), Vivaldo (clarineta e sax), Edson (violão de 7 cordas), Armadinho (bandolim), Edil Pacheco (violão), Everaldo Júnior (baixo), Chorinho (trombone), Pedro Torres e Valdomiro (piston), Cacu, Sambador, Tamborim, Miguel e Edmundo (percussão) . No LP, Batatinha comparece com os sambas-canção Diplomacia, Ministro do samba, Inventor do Trabalho e o Direito de Sambar. Batatinha gostava de se comparar com outro grande do samba, Cartola, pois chegaram ao registro fonográfico com idades semelhantes. As gravações foram realizadas em quatro madrugadas no Teatro Vilha Velha, sem apresença de público.

Em 76, grava o primeiro e único álbum-solo, Toalha de Saudade, que traz a regravação do samba Espera, sucesso na voz de Alcione. A letra do samba é um exemplo nítido da faceta de uma melancolia herdada do lamento dos escravos misturada com a alma portuguesa. Antes de mais nada, o lamento de um sambista negro baiano de rara sensibilidade poética: "É doloroso esperar/ e sem nunca chegar/ quem a gente quer/ e com a alma em desespero/ se preocupa no espelho/ uma solução qualquer". Pela qualidade rítmica e lírica, o álbum sendo escolhido pela crítica especializada da imprensa como melhor álbum de samba daquele ano.

Batatinha tinha mágoas naturais de quem havia vivido na pobreza e não conseguia se encaixar no mercado da música popular brasileira. Chegou a reclamar de terem tentado enquadrá-lo como cantor de samba de roda, mas ele relutava em ser cerceado a algo mais limitado. Fazia questão de se fazer samba de origem africana, do semba angolano, mas com influência do samba-canção urbano brasileiro. Pertencente à Irmandade do Rosário dos Pretos, foi devoto dos sambas concisos, despretensiosos, mas nunca destituídos de ambição estética.

Nunca desistiu de promover o samba como expressão artística genuína do povo brasileiro. Incentivou e promoveu diversos eventos ligados ao gênero, como a "Segunda do Samba" e o "Dia do Samba", no Largo do santo Antônio. Essas festas sempre contaram com o prestígio e presença de nomes da MPB, como Chico Buarque e Luís Melodia, graças à admiração que eles nutriam pelo organizador do evento.

Continou fazendo shows esporádicos em circuitos mais fechados e culturais, como o circuito universitário do Projeto Pixiguinha que ele fez, em 83, ao lado da cantora carioca Elza Soares. Chega a fazer shows, em 87, com o músico baiano Saul Barbosa e mais outros cada vez mais esporádicos. No ano seguinte, comemora os 44 anos de carreia artística num show no Teatro Vilha Velha reunindo Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Margareth Menezes, Gerônimo, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Carlos Pita e outros.

A morte e as homenagens póstumas

Entra na década de 90 realizando shows esporádicos e sem conseguir lançar o segundo álbum-solo. Não conseguiu realizar seu último intento artístico, pois, em janeiro de 97, morre vítima de câncer na próstata. Foi enterrado no dia 04/01/97 no cemitério Jardim da Saudade. Apenas conseguiu participar de um projeto de homenagem que não teve tempo de ver concluído.

Deixou 10 filhos e foi casado por duas vezes. Sua herança cultural é inestimável. Os produtores Paquito e Jota Veloso recuperaram um rico acervo de Batatinha e estão abertos a disponibilizar essas canções para quem quiser gravá-los. A vida do mestre do samba melancólico que, também, tinha seu lado alegre continua na perpertuação da sua obra de raiz baiana, mas de valor universal.

A morte do artista não impediu que um projeto de um álbum em sua homenagem fosse lançado. Os produtores Paquito e Jota Veloso já tinham recolhido em um gravador doméstico mais de 70 músicas de Batatinha e escolheram 17 que seriam gravadas por nomes da MPB. Com o patrocínio da Fundação Cultural do Estado da Bahia, o álbum Diplomacia é lançado em maio de 98 pela gravadora EMI.

Algumas letras do compositor Batatinha






Fonte: Batatinha - Biografia

Carlos José - Biografia


Carlos José (Carlos José Ramos dos Santos), cantor e compositor, nasceu em São Paulo SP em 22/9/1934. Filho de um funcionário público e irmão do violonista Luís Cláudio Ramos, em 1939 transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro RJ, indo morar no bairro de Santa Teresa. 


Interessado por música desde criança, aos 11 anos aprendeu a tocar violão com a mãe. Estudou nos colégios Menino Jesus, Santo Inácio e Andrews, ingressando, mais tarde, na Faculdade de Direito, no Catete. Durante todo esse tempo sempre esteve ligado a grupos musicais amadores.

Aos 13 anos participou do programa de calouros Papel Carbono, na Rádio Clube, classificando-se em primeiro lugar.

Sua carreira profissional começou em 1957, quando ainda cursava direito: numa das festas da faculdade, apresentou-se com um conjunto e foi ouvido por Flávio Cavalcanti, que o convidou para participar de seu programa Um Instante Maestro, na TV-Rio. Na televisão, conheceu o compositor Alcir Pires Vermelho, por meio de quem gravou um 78 rpm, na Polydor, que incluía Ouça (Maysa) e Foi a noite (Tom Jobim e Newton Mendonça). Essa gravação deu-lhe o título de cantor-revelação do ano, concedido pelos cronistas do Rio de Janeiro. O sucesso levou-o a abandonar a advocacia para dedicar-se somente à música.

Em 1958, lançou Oferta, sua primeira composição gravada, na Polydor. Em seguida, começou a viajar, apresentando-se em todo o Brasil, na Argentina e no Uruguai. Entre seus maiores sucessos, destacam-se Esmeralda (Fernando Barreto e Filadelfo Nunes), de 1960; Lembrança (versão de Serafim Costa Almeida), de 1962; Queria (Carlos Paraná), de 1964; Guarânia da saudade (Luís Vieira), de 1966; e Oração da Mãe Menininha (Dorival Caymmi), de 1973.

Com cerca de 25 LPs gravados, em diversas etiquetas, em 1975 lançou Meu canto de paz, álbum da RCA Victor que, além de músicas de compositores novos, incluiu composições antigas, como Arrependimento (Sílvio Caldas e Cristóvão de Alencar) e Cabelos brancos (Marino Pinto e Herivelto Martins).

Em 1993 gravou o CD Serestas brasileiras, do projeto Academia Brasileira de Música, da Sony. Entre outras faixas, o disco contém Esses moços (Pobres moços) e Nervos de aço (ambas de Lupicínio Rodrigues), Eu sonhei que tu estavas tão linda (Lamartine Babo e Francisco Matoso), Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Assim como os rios bravios e Modinha.

Em 1997 regravou seus principais sucessos, entre eles Lembrança, Esmeralda e Guarânia da saudade, para a Polygram, que lançou o CD 20 Super Sucessos de Carlos José, no qual foram incluídas também versões para Olhos nos olhos (Chico Buarque), Naquela mesa (Sérgio Bittencourt) e Cabecinha no ombro (Paulo Borges), e duas músicas inéditas: Você é uma mentira (Joelma) e Menino de rua (J. Júnior).

Em 1999, organizou e estrelou espetáculo no auditório principal da Academia Brasileira de Letras, quando do lançamento das 14 canções do século XX e do livro "MPB - a história de um século", de R. C. Albin.

Ao longo de sua carreira, apresentou-se nos palcos de todo o Brasil, além de ter realizado shows em Portugal, México, Argentina, Uruguai, Paraguai e Equador.

Em 2014, aos 80 anos, voltou a gravar, lançando com o irmão e violonista Luiz Cláudio Ramos, o CD "Musa das Canções", apenas com voz e violão, no qual interpretou somente composições com nomes de mulher, como por exemplo, Odete, de Herivelto Martins e Waldemar de Abreu, o Dunga, cantada em dueto com Chico Buarque, Doralice, de Dorival Caymmi e Antônio Almeida, Laura, de João de Barro e Alcyr Pires Vermelho, em dueto com Jerry Adriani, Maria, de Ary Barroso, Ai que Saudades da Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago, Esmeralda, de Filadelpho Nunes, seu primeiro grande sucesso, e Cantiga por Luciana, de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, além da inédita Celina, de sua autoria.


Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998; Dicionário Cravo Albin da MPB (atualização depois de 1998).

Carequinha - Biografia


Carequinha (George Savalla Gomes), palhaço, compositor e cantor, nasceu em Rio Bonito-RJ (18/7/1915) e faleceu no Rio de Janeiro-RJ (5/4/2006). Em 1920 começou a trabalhar no Circo Peruano, de seu avô, chamado Savalla, em Carangola, e em 1938 estreou como cantor no programa Picolino, de Barbosa Júnior, na Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro.


Com a inauguração da TV Tupi, em 1950, formou com Fred (Fred Vilar) notável dupla de palhaços, em seu programa Circo do Carequinha, pioneiro na televisão. Em 1958 realizou sua primeira gravação com a música Fanzoca de rádio (Miguel Gustavo), e no ano seguinte estreou como compositor, gravando Alma de palhaço (com Fred).

O Palhaço Carequinha

Numa noite de 18 de julho de 1915, na cidade de Rio Bonito, Estado do Rio de Janeiro, a aramista e trapezista Elisa Savalla, durante uma apresentação noturna no Circo Peruano, sente as primeiras dores do parto. O seu marido, Lázaro Gomes, em pleno picadeiro, pede para ela descer do arame. Assim, num barraco de circo, nasce George Savalla Gomes, mais conhecido como Carequinha. Logo após o parto, seguindo uma bela tradição circense, ele recebe dos artistas os primeiros dos muitos aplausos, que se tornariam uma constante em sua vida.

O pai, que largou a batina pela atriz circense, morreu quando Carequinha tinha dois anos. Sua mãe casou-se novamente, com Ozório Portilho. Aos cinco anos, na cidade de Carangola, Minas Gerais, sua família trabalhava no Circo Peruano de seu avô, José Rosa Savalla, quando o padrasto Ozório, após alguns ensaios, colocou uma careca no pequeno menino e disse: “Hoje você vai entrar ( no picadeiro ) carequinha" e profético determinou que “de agora em diante você será o Carequinha”. Naquela ocasião tinha um palhaço que se chamava Careca e não podiam existir dois palhaços com nomes iguais. Então, dos cinco anos em diante, ele nunca mais deixou de ser o Carequinha.

Devidamente batizado, o contato com o público foi imediato e pouco a pouco transformou seu caminho em sinônimo de alegria. Foram muitas viagens pelo Brasil, com o Circo Peruano, da família Savalla, depois o Circo Ocidental (comprado pelo padrasto ), sendo palhaço oficial do circo aos 12 anos, o Atlântico e o Olimecha, até chegar no Rio de Janeiro o Circo Alemão Sarrazani.

Isso foi em 1951. Eles queriam uns palhaços brasileiros e Carequinha e o companheiro Fred tornaram-se então uns dos raros palhaços do Brasil contratados por um circo estrangeiro. O circo era uma bola de alumínio, uma coisa extraordinária, para o veterano palhaço que nunca tinha aquilo. O circo ficou três meses defronte da Central do Brasil e depois, com Carequinha e Fred, foi para São Paulo. Os dois palhaços ficaram 4 meses e meio nesse espetáculo.

Naquela época o circo também era teatro, como relembra o palhaço: “Eu era o galã, rapaz novo, fazia o palhaço na primeira parte e depois o galã das peças. O circo tinha palco, a primeira parte era no picadeiro e a segunda no palco, levava aqueles dramalhões". Foi na segunda parte que Carequinha conheceu o grande companheiro Fred, um alfaiate que nas horas vagas trabalhava em teatros dos subúrbios carioca.

Depois, radicado na cidade de São Gonçalo, Rio de Janeiro, Carequinha optou por apresentar-se fora do circo, na qual as apresentações eram diárias. Carequinha gostava de fazer três, quatro, cinco apresentações por semana. Então, ele se limitou a fazer shows de aniversários, clubes e viagens para o interior do país.

Ele representou o nosso país quatro vezes no Exterior, ganhando uma medalha de ouro na Itália como o Palhaço Moderno do Mundo. O recebimento da medalha ocorreu na Cidade de Campione D’itália, credenciado ao concurso pela Superintendência do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, para representar o Brasil no I Festival Internacional de Clow, que foi realizado nos dias 13 e 14 do mês de dezembro de 1964, disputando com palhaços de 20 países. Também esteve em Portugal, na América do Norte duas vezes, na Argentina e no Reino Unido.

Em certa ocasião, enquanto viajava de avião para Florianópolis, o diretor de um show passou um rádio para o avião em que se encontrava Carequinha pedindo que ele descesse maquiado porque tinha umas três mil pessoas no aeroporto esperando para vê-lo. Neste dia, ele recebeu a chave da cidade num carro do Corpo de Bombeiro e foi até o centro da cidade para o primeiro show numa praça que estava lotada.

A mesma receptividade ocorreu em Porto Alegre e Portugal. A partir do convite de Getúlio Vargas para apresentar o seu circo para seus filhos no Palácio do Catete, Carequinha passou a ser considerado o Palhaço dos Presidentes. Os seus shows eram quase que obrigatórios para todos os presidentes da República, desde de Getúlio Vargas passando por JK incluindo os Generais do governo militar. Ele tomou parte da inauguração da Praça dos Três Poderes, na então recém criada Brasília (1960), convidado pelo amigo Juscelino Kubitschek.

Durante suas viagens de trabalho, Carequinha encontrou tempo para namorar e casar-se. “O Circo Ocidental foi a Poços de Caldas, Minas Gerais ( 1940 ). Lá, eu me casei e depois voltamos para São Gonçalo. Minha esposa, Elpídia, era professora e gostou do Carequinha. Eu bem que lhe contei como era a minha vida. Mesmo assim ela decidiu se casar comigo”.

Carequinha também tinha tempo para os estudos, tendo estudado até o 3o ano da faculdade de Direito. Desde criança, sua mãe o matriculava na escola de cada cidade por onde o circo passava. Assim foi sua vida escolar.

O rádio estava em sua Época de Ouro. Carequinha integrou o elenco do Programa Barbosa Júnior, na Rádio Mayrink Veiga ( RJ ), e do show de variedades de César de Alencar, na Rádio Nacional ( RJ ). Trabalhou ao lado de cantores como Francisco Alves, Emilinha Borba e Ângela Maria. As músicas interpretadas por Carequinha, Fanzóca do Rádio ( brincadeira com as fãs de Emilinha Borba ) e A Burrinha foram as mais tocadas nos carnavais de 1958 e 1960, respectivamente.

Além das marchinhas carnavalescas, Ele gravou várias músicas infantis, muitas acompanhado pelo flautista Altamiro Carrilho e sua bandinha. Em 1962, com Carrilho, Carequinha gravou O Bom Menino ( “O Bom Menino não Faz Pipi Na Cama/ O Bom Menino não Faz Mal-criação/ O Bom Menino Vai Sempre a Escola....” ) que vendeu 2 milhões e 500 mil cópias.

Ele foi o primeira a gravar a música de roda Atirei o Pau no Gato, além de outras velhas cantigas infantis. O jornal Folha de São Paulo publicou certa vez que Carequinha foi o primeiro a gravar um rock infantil no Brasil: O Rock do Ratinho. No início da década de 80, Carequinha, juntamente com Pelé, participou do primeiro disco de Xuxa Meneghel: O Clube da Criança. Ao todo ele gravou 27 LP’s e 184 compactos, mas poucos sabem que ele foi um seresteiro.

Algumas letras e gravações de músicas















Fonte: O Palhaço Carequinha

Rock do ratinho - Carequinha


Rock do Ratinho (1960) - Ciro de Souza - Intérprete: Carequinha

LP Carequinha - Os Grandes Sucessos Do Carequinha / Título da música: Rock do Ratinho / Ciro de Souza (Compositor) / Carequinha (Intérprete) / Gravadora: Copacabana / Nº Álbum: CLP 11221 / Ano: 1961 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Polca / Infantil.



Era uma vez um ratinho pequenino
que namorava uma ratinha pequenina
e os dois se encontravam todo dia
num buraquinho na esquina

rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha namorando
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha se beijando

o ratinho lhe trazia todo dia
um pedaço de toucinho fumeiro
um tiquinho de manteiga, um queijinho
e um pouquinho de manteiga no focinho

rock rock rock rock rock
é o sino da igreja badalando
rock rock rock rock rock
é o ratinho e a ratinha se casando...

O bom menino - Carequinha


O Bom Menino (canção, 1960) - Irany de Oliveira e Altamiro Carrilho - Interpretação: Carequinha

LP Carequinha - Os Grandes Sucessos Do Carequinha / Título da música: O Bom Menino / Altamiro Carrilho (Compositor) / Irany de Oliveira (Compositor) / Carequinha (Intérprete) / Gravadora: Copacabana / Nº Álbum: CLP 11221 / Ano: 1961 / Lado B / Faixa 1 / Gênero musical: Canção / Infantil.



O bom menino não faz xixi na cama
O bom menino não faz malcriação
O bom menino vai sempre à escola
E na escola aprende sempre a lição

O bom menino respeita os mais velhos
O bom menino não bate na irmãzinha
Papai do céu protege o bom menino
Que obedece sempre, sempre a mamãezinha

Por isso eu peço a todas as crianças
Preste atenção para o conselho que eu vou dar

(falado)
Olha aqui.
Carequinha não é amigo de criança que passa
de noite da sua cama pra cama da mamãe
E também não é amigo de criança que rói unha,
e chupa chupeta.
Tá certo ou não tá?
Táaaaaaa

Eu obedeço sempre a mamãezinha
Então aceite os parabéns do carequinha.

O bom menino...

(falado)
Olha aqui.
Carequinha só gosta de criança
que respeita mamãe, papai, titia e vovó
E seja amigo dos seus amiguinhos
E também que coma na hora certa,
e durma na hora que a mamãe mandar.
Tá certo ou não tá?
Táaaaaaa

Eu obedeço sempre a mamãezinha
Então aceite os parabéns do carequinha.